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MANHÃS AZUIS




MANHÃS AZUIS



Um domingo desses acordei bem cedo. Como sempre...
Dia lindo, céu azul. Lembrei-me das manhãs de domingo em minha cidade. Em especial dos sinos da igreja perto de casa: tocavam pontualmente às nove e meia.
Saudoso, resolvi fazer uma visita a Rio Claro. Não pela rodovia, que me levaria até lá em menos de uma hora. Fui pelas vicinais, passando pelas ruas dos distritos, inclusive por aquele de onde minha família é originária (Ferraz).
Deliciosa manhã!
Ao chegar, parei o carro e andei pelos lugares em que costumava brincar e por onde passava para ir à escola, aos ensaios do grupo musical, ao cinema...
A casa onde vivi por mais de quinze anos ainda está lá. Mas pouca coisa ao redor não sofreu alguma transformação.
Vi a casa da moça de cabelos encaracolados, olhos cor de mel e que eu, uma criança com seus dez, doze anos, observava fascinado. Quando Lúcia casou, mudou-se para o Rio de Janeiro e nunca mais a encontrei.
Um quarteirão abaixo, o jardim à frente da casa de Da. Suzana ainda permanece, com suas hortênsias e rosas.
Perto das nove e meia segui em direção à Igreja, queria ouvir os sinos de perto (se é que eles ainda seriam tocados...). Logo soaram e um filme detalhado pareceu passar em minha mente.
Entrei na Igreja e o sermão abordou a importância das referências na vida, dos valores que nos acompanham ao longo do tempo, das experiências às quais se podem recorrer quando as nuvens parecem tingir o nosso céu. Foi destacada a relevância de existir algo para onde se possa voltar, matar a saudade e perceber que subsistem balizas para os caminhos ainda a trilhar.
Saí com o coração leve. Mais alguns pontos revisitados e retornei.
Os sinos da Igreja ainda ressoam em mim.
Não sei se há palavras para transmitir a sensação que senti.
Ficou o desejo de que nos seja possível, sempre, ouvir os sinais que a vida deixou gravados em nossos corações. Sinais que relembraram tempos, lugares e pessoas que passaram por nós e deixaram saudade.
E que, de algum modo, algum dia, a gente possa voltar a eles e, nas manhãs azuis, relembrar detalhes e dissolver o que for possível da saudade que vai estar ao lado nessa e em tantas outras horas.


Comentários

  1. Adorei!Me fez pensar em meu passado e meu futuro.

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  2. Emocionante e motivador. Nossas balizas de vida sempre nos "trarão de volta" a tantos lugares e situações que permanecem, teimosos, em nossas lembranças. E é fundamental ter "para onde é para quem" voltar...

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  3. Amei, podia ter vindo nos visitar, saudades de vcs, bjss

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