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AQUELA PRAÇA



O encontro naquela praça foi inesquecível.

O horário não se mostrou importante. Não houve fogos de artifício, nenhuma canção podia ser ouvida no instante em que as vozes e os olhares se cruzaram – curiosos e envolvidos – naquele lugar que se tornou referência e, ao mesmo tempo, um misto de saudade e resignação.

Os canteiros floridos ao redor e as calçadas ligeiramente sinuosas confirmavam que o momento era verdadeiro, um momento que seria a demonstração de que a realidade da vida podia apresentar tonalidades de paz, euforia e encanto.

Era o início de um tempo que viria a ser surpreendente. Em doses pacíficas e gradativas.

Ainda um pouco e seria possível rever as amoreiras florirem, os granitos espelharem o brilho do sol. Seria possível desfrutar as imagens elevadas do mar, das ondas que arrebentariam em praias serenas e da espuma que carregaria consigo eventos imemoriais.

Seria possível ouvir as antigas e as novas canções, agora revestidas de arranjos intensos, teclados e sopros marcantes, raiados como as manhãs da primavera que foram imaginadas desde sempre.

Ainda um pouco e viriam os aromas precisos, originados das grutas escondidas e apenas há pouco reveladas aos sentidos, como promessas que se cumpririam nos momentos mais convenientes, nas circunstâncias mais inesperadas e felizes.

Seria – quem sabe? – possível degustar sabores longínquos, misturando silêncio e vigor aos tesouros das palavras que viajariam mil paisagens até se assentarem nas mãos mais suaves, acessíveis a quem deixa os olhos serem dominados pelo coração e pela alma.

Ainda um pouco. Seria possível elevar os sentidos, para o que estaria guardado além das projeções mais otimistas e dos sonhos mais acalentados. Um pouco mais alto, um pouco mais além.

As veredas abertas que possibilitariam a passagem dos versos e das confissões definitivas seriam como portais inconfundíveis para tornar possível a compreensão de tudo o que os gestos e os sorrisos transformariam em realizações.

Aquela praça... é para lá que as lembranças insistem em voltar quando o silêncio ganha espaço e as madrugadas parecem mais longas.

Aquela praça, que seja eterna!

E que sua poesia seja um presente cotidiano para a vida. O melhor e o mais valioso de todos os presentes.


Comentários

  1. Me senti reportada à praça e ao festival de sensações despertadas pela leitura 👏

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  2. Muitas e muitas memórias inundam o pensamento com esta postagem... Evocam situações memoráveis e inesquecíveis. Grande abraço.

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  3. Mestre Rocco.
    Lindo o texto.
    Possibilitou relembrar a praça da infância e os bons momentos na querida pracinha.
    Grande abraço.

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  4. Estimado Professor Rocco! Seu texto está maravilhoso, capaz de nos transportar ao passado e recordar do nosso tempo de criança. Sensacional! Um grande abraço!

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  5. Na praça, os bons momentos ganham vida, enchendo o ambiente de alegria e nostalgia. A cada visita à praça, uma nova dose de felicidade é injetada em nossas almas, lembrando-nos da importância de apreciar os pequenos prazeres da vida.

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  6. Mano Rocco, Lembrei-me de uma pracinha em Campo Florido - MG. Sempre ia lá brincar com amigos na infância e ficava encantado com aquele espaço circundado por flores e arbustos. Ali me sentia preenchido em amizades e paisagem. Boas recordações!

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  7. ola ilustríssimo prof. Rocco..!! Lindo texto..!! Parabéns..!! Acho que todos nós tempo boas lembranças de alguma praça em algum lugar na infância como na vida adulta. Lembro daquela musica do Ronnie Von. "A mesma praça, o mesmo banco, as mesma flores, o mesmo jardim" Forte Abço!!

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