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AQUELA PRAÇA

O encontro naquela praça foi inesquecível. O horário não se mostrou importante. Não houve fogos de artifício, nenhuma canção podia ser ouvida no instante em que as vozes e os olhares se cruzaram – curiosos e envolvidos – naquele lugar que se tornou referência e, ao mesmo tempo, um misto de saudade e resignação. Os canteiros floridos ao redor e as calçadas ligeiramente sinuosas confirmavam que o momento era verdadeiro, um momento que seria a demonstração de que a realidade da vida podia apresentar tonalidades de paz, euforia e encanto. Era o início de um tempo que viria a ser surpreendente. Em doses pacíficas e gradativas. Ainda um pouco e seria possível rever as amoreiras florirem, os granitos espelharem o brilho do sol. Seria possível desfrutar as imagens elevadas do mar, das ondas que arrebentariam em praias serenas e da espuma que carregaria consigo eventos imemoriais. Seria possível ouvir as antigas e as novas canções, agora revestidas de arranjos intensos, teclados e sop
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DIÁLOGOS, CAFÉ E AFETO

    - Olá! - Olá! - Estou preocupado com o seu dente. Pelo que me contou percebi que estava incomodando bastante, tirando seu bom humor e fazendo você se sentir aborrecida e desmotivada. Na realidade, com esta síntese ele desejava que suas palavras fossem entendidas de um modo bem mais amplo, abrangendo tantos outros aspectos a respeito dos quais não estava acostumado a se referir. Afinal, muitas vezes, assim ele pensava, é possível que as pessoas em suas relações assumam, implicitamente, impressões de que determinados limites não devem ser excedidos. Ela se questionava a respeito das razões que o levavam a insistir com perguntas muito parecidas. Os cuidados dele seriam mesmo tão profundos como algumas vezes havia manifestado, não somente com palavras, mas com gestos, atitudes e providências? Ele não estaria percebendo que suas dores ultrapassavam as fronteiras físicas e estavam alcançando de modo intenso suas emoções e suas expectativas? No entanto, ele seguia com suas con

ASSIM É A VIDA

  Imagens fixadas em fotografias são sempre subjetivas. Exercitam a capacidade de fazer parar o tempo, registrando instantes únicos, trazendo em sua essência sínteses de histórias – já vividas ou por viver. Fotografias, muitas vezes, são registros de uma não presença, de um vazio que se instalou depois de partidas de todos os tipos ou de chegadas inesperadas a lugares incomuns. Fotografias são as veladas afirmações de que a vida sempre nos conduz ao confronto de nossos limites. Superá-los ou não é algo circunstancial, o essencial é não abdicar dos confrontos, sem os quais não veremos expandidas as nossas fronteiras pessoais. Alguém já teria dito que, para cada coisa que adicionamos ao nosso trajeto, é preciso renunciarmos a algo, que ficará disperso por onde construímos nossos caminhos. Será nestas horas que, resignados, teremos mais clara a intensidade de nossa determinação. Prosseguir ou retornar são alternativas excludentes: é possível apenas escolher uma delas. E... renúnci

UMA VIAGEM NO TEMPO

Naquela manhã, a viagem pareceu durar bem mais que as horas calculadas. Na verdade, a intensa expectativa era rever, pouco mais de um ano depois, a pessoa especial, que tanto o impressionara. Provavelmente de modo definitivo. Instalado no hotel, aguardou com ansiedade o horário estabelecido para o encontro, até receber a mensagem confirmando já estarem resolvidas as questões que ela estava tratando. Era tempo de se dirigir à praça central, conforme haviam marcado. Chovia fino naquela tarde, tornando o momento ainda mais singular. Vinda de uma das esquinas da praça, a linda mulher se fez presente e, como um presente, conduziu as palavras e os abraços de boas-vindas e, com seu sorriso inigualável, propôs - e foi imediatamente atendida - que almoçassem no restaurante mais próximo. Assim fizeram e começaram a conversar como se houvessem estado juntos desde sempre. Nem mesmo a intensidade sonora do local foi impeditiva para que o momento tão esperado se mostrasse exatamente como p

VESTÍGIOS

Alguém teria dito, um dia desses, que tudo o que as mãos levam ao papel são traços de páginas já vividas que, insistentes, permanecem no imaginário de nossos sentidos e, irreverentes, se manifestam quando bem desejarem, sem prévio anúncio e sem censura. Somos a soma dos vestígios que absorvemos ao longo de nossos passos, em nossos caminhos. Em geral são muitos, todavia alguns exemplos são mais tangíveis. As imagens, mesmo que imprecisas, das primeiras companhias e das primeiras esperanças, acalentadas num tempo que ainda nem era possível compreender o real significado desses termos. As pessoas, aparentemente insubstituíveis, que, pelos mais diversos motivos, saíram de nosso convívio e de quem quase nada mais soubemos. Talvez nem nos lembremos dos instantes nos quais trocamos as palavras que viriam a ser as derradeiras de nossas relações. As impressões daqueles que atravessaram conosco os diferenciados instantes de serenidade ou amargura; que navegaram ao nosso lado as ondas de todas as

UMA PEQUENA HISTÓRIA A RESPEITO DE PALAVRAS E SILÊNCIOS

  Franco e Tom, amigos de longa data, mantinham constantes diálogos, caracterizados pelas suas personalidades opostas e posições complementares a respeito de diversos temas. Tom era extrovertido e direto quando se manifestava, suas palavras dificilmente deixavam dúvidas. Franco era mais ouvinte, falava com ponderação e, algumas vezes – apenas algumas – conduzia o amigo a refletir sobre determinadas declarações. Mas não se lembrava de qualquer ocasião em que seus argumentos levaram o amigo a mudar de ideia. Tom vivia com Simone há vários anos, partilhavam de opiniões análogas e administravam com sucesso suas atividades profissionais. Para ela, sobravam elogios a cada conversa com Franco. - “Ela é muito criativa!”, ao se referir às soluções práticas adotadas diante das situações cotidianas. - “Ela é muito determinada!”, expressava Tom ao comentar a disposição de Simone para superar as circunstâncias em que seus objetivos pareciam se afastar da viabilidade do momento. - “Ela é muito int

DEZ ANOS

Você que está lendo este post com certeza viveu intensamente os últimos dez anos.   Mesmo que tenha seguido um projeto de vida cuidadosamente articulado e detalhado, você não deixou de experimentar surpresas, não evitou dores imprevistas, não se esquivou das novidades que impregnaram de sorrisos seus dias. Ou, até, conviveu com fases de monotonia e aparente ausência de alternativas.   Mesmo diante de um planejamento pessoal rigoroso, você deverá ter transitado por situações inesperadas e por momentos em que as questões propostas pela vida pareciam se afastar cada vez mais de suas possibilidades de criar respostas.   Pode ser que tenha vivenciado circunstâncias nas quais se sentiu só e sem disposição para superar os eventuais obstáculos que, surgidos intempestivamente, esmaeceram as cores de seus dias e dificultaram suas reações.   Pode ser, também, que nesses dez anos você tenha tido a experiência de conviver com a melhor das companhias, aquela que proporcionou crescimento e ap