Pular para o conteúdo principal

DIÁLOGOS, CAFÉ E AFETO

 


 

- Olá!

- Olá!

- Estou preocupado com o seu dente. Pelo que me contou percebi que estava incomodando bastante, tirando seu bom humor e fazendo você se sentir aborrecida e desmotivada.

Na realidade, com esta síntese ele desejava que suas palavras fossem entendidas de um modo bem mais amplo, abrangendo tantos outros aspectos a respeito dos quais não estava acostumado a se referir. Afinal, muitas vezes, assim ele pensava, é possível que as pessoas em suas relações assumam, implicitamente, impressões de que determinados limites não devem ser excedidos.

Ela se questionava a respeito das razões que o levavam a insistir com perguntas muito parecidas. Os cuidados dele seriam mesmo tão profundos como algumas vezes havia manifestado, não somente com palavras, mas com gestos, atitudes e providências? Ele não estaria percebendo que suas dores ultrapassavam as fronteiras físicas e estavam alcançando de modo intenso suas emoções e suas expectativas?

No entanto, ele seguia com suas considerações. Como ela receberia as indagações que nunca ele havia ousado? Afinal cada um de nós tem lá suas lembranças que podem trazer desconfortos quando tratadas em momentos impróprios ou com palavras cujos significados podem ser entendidos de modo distinto das intenções iniciais. Por mais verdadeiras e sinceras que possam ser. Seria um risco muito grande se atrever a esta experiência. Tantas dúvidas.

Ela se percebia desejosa de ouvir frases que pudessem se constituir em reflexos mais claros de seu afeto. Mas...como fazer chegar a ele essa esperança ou, além disto, este desejo que – uma vez satisfeito - viria a se estabelecer como um tipo especial de conforto. O tempo sempre renova necessidades, as quais – mais que reveladas por palavras – precisam ser distinguidas com os sutis sinais que o tipo de convívio permitir.

Continuava sistematicamente avaliando esta situação, buscando encontrar alternativas para ampliar sua criatividade. Havia nele muita disposição e tinha certeza de manter por longo período este alto nível de interesse.

E ela, em diversos momentos, se surpreendia um pouco mais ansiosa, enquanto exercitava a espera por palavras revigoradas. Espera que poderia ser abreviada e concretizada a partir do encontro para um café em algum lugar, que se tornaria especial, como outros que já haviam experimentado.

 - Verdade! Está mesmo me incomodando. Mas já consegui marcar consulta com uma dentista para a próxima semana. E vamos ver o que vai se resolver com este dente.

 


Comentários

  1. Espero que o problema com o dente possa ser resolvido com algum reparo, sem necessidade de extração, que seria muito mais dolorosa e deixaria uma lacuna. 😍

    ResponderExcluir
  2. Cuidados são fundamentais!!! Sigamos em renovados afetos.

    ResponderExcluir
  3. Mestre.
    Texto muito bom.
    Como sempre.
    Cuidar sempre é o que devemos fazer.Ju
    👏👏👏👏👏
    Grande abraço.

    ResponderExcluir
  4. Sutilezas e emoções sempre presentes. Muito obrigado Prof. Rocco! Victor

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

AQUELA PRAÇA

O encontro naquela praça foi inesquecível. O horário não se mostrou importante. Não houve fogos de artifício, nenhuma canção podia ser ouvida no instante em que as vozes e os olhares se cruzaram – curiosos e envolvidos – naquele lugar que se tornou referência e, ao mesmo tempo, um misto de saudade e resignação. Os canteiros floridos ao redor e as calçadas ligeiramente sinuosas confirmavam que o momento era verdadeiro, um momento que seria a demonstração de que a realidade da vida podia apresentar tonalidades de paz, euforia e encanto. Era o início de um tempo que viria a ser surpreendente. Em doses pacíficas e gradativas. Ainda um pouco e seria possível rever as amoreiras florirem, os granitos espelharem o brilho do sol. Seria possível desfrutar as imagens elevadas do mar, das ondas que arrebentariam em praias serenas e da espuma que carregaria consigo eventos imemoriais. Seria possível ouvir as antigas e as novas canções, agora revestidas de arranjos intensos, teclados e sop

ASSIM É A VIDA

  Imagens fixadas em fotografias são sempre subjetivas. Exercitam a capacidade de fazer parar o tempo, registrando instantes únicos, trazendo em sua essência sínteses de histórias – já vividas ou por viver. Fotografias, muitas vezes, são registros de uma não presença, de um vazio que se instalou depois de partidas de todos os tipos ou de chegadas inesperadas a lugares incomuns. Fotografias são as veladas afirmações de que a vida sempre nos conduz ao confronto de nossos limites. Superá-los ou não é algo circunstancial, o essencial é não abdicar dos confrontos, sem os quais não veremos expandidas as nossas fronteiras pessoais. Alguém já teria dito que, para cada coisa que adicionamos ao nosso trajeto, é preciso renunciarmos a algo, que ficará disperso por onde construímos nossos caminhos. Será nestas horas que, resignados, teremos mais clara a intensidade de nossa determinação. Prosseguir ou retornar são alternativas excludentes: é possível apenas escolher uma delas. E... renúnci