BÉSAME
(ouça https://www.youtube.com/watch?v=TUVM4WdXMLs
enquanto faz a leitura)
Durante muitos anos, Paulo foi profissional da música, cantando em restaurantes, bailes e outras festas. Gostava destes trabalhos. Porém, por causa deles, raras vezes teve a oportunidade de dançar, nos moldes românticos ainda viáveis naquele final da década de 1980.
Para ele, dançar era um ato de magia, bem mais que o simples compartilhar de mãos, movimentos e expectativas. Esta era sua percepção e acreditava nela apenas se houvesse alguma cumplicidade entre os envolvidos.
Entretanto, sempre há os dias em que algo inesperado acontece.
Havia um clube, em sua cidade, que programava as chamadas Noites Temáticas. Num sábado sem trabalho, foi à boate. Decoração como convém, luzes contidas, músicas falando dos diversos tipos de amor: boleros e outros ritmos do gênero.
Os passeios de sempre pela penumbra do salão e, de repente, Paulo encontrou uma linda mulher, de pele e cabelos morenos, olhar acastelado. Não se lembrava de tê-la conhecido.
Quis dançar com ela. Contudo, não acostumado a tomar determinadas iniciativas, demorou algum tempo para convidá-la.
Um grupo muito bom tocava naquela noite, em particular o saxofonista. Finalmente, empolgado com uma canção, chegou ao lado dela. Era mais intensa que imaginava, sorria largamente. Não precisou tomá-la pela mão: ela o fez.
Pensou:
- “E agora? Como me virar com a dança, eu que sempre toquei para que outros dançassem?”
Apenas ouviu:
- “Me siga”.
E assim o fez.
A suave intensidade sonora permitia se conversar durante a dança. Seus longos cabelos, sua mão suave e seus movimentos seguros o envolveram. Assim como sua voz, suas palavras.
O mundo pareceu rodar em volta e, de repente, Paulo ninguém mais via além dela.
- “Vamos dançar de novo mais tarde.”
Estas palavras dela o encantaram.
Mais tarde...voltaram para a dança e, terminada outra canção, saíram para as laterais externas do clube. A lua tropical iluminava, embora menos que os olhos e os lábios dela.
Lembrou-se do verso da canção: “Eu vi que era feliz”. De algum modo, imaginou que ela também estivesse feliz.
A noite foi célere.
Mais duas vezes se encontraram nas Noites Temáticas.
Depois...nunca mais.
Quando ouve o bolero “Bésame”, Paulo considera que sua letra teria retratado fielmente aquela experiência inesquecível.
- "Bésame. Bésame mucho más..."
Muito pertinente! Na verdade fala para tantos momentos que muitos ou muitas já vivenciaram ao longo do tempo! Relato envolvente e muito bom gosto!!
ResponderExcluirMurilo Antunes deveria ler isto para dar sequência nesta história. Sensacional. E o Flávio Venturini mantendo a musicalidade e o ritmo. Parabéns, Chico. Abraço
ResponderExcluirEsse belo episódio me remeteu ao passado, muitos encontros e muitas danças, só que tive mais sorte, em uma dessas, encontrei a Mady, minha esposa.
ResponderExcluirAbraço Chico!
Muito pertinente e envolvente o texto! A escrita sensível acaba criando conexões genuínas e despertando nostalgias. Parabéns! Abraço!
ResponderExcluirBelas vivências que nos remete aos nossos "encontros" que costumamos relembrar.
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