Se um dia eu esquecer o cheiro do
armário de cosméticos da vó Julia, me mostre um vaso de antúrios vermelhos ou
me presenteie com um punhado de bolachinhas de maisena.
Se eu não mais me lembrar do amor do
nosso pai, faça-me ouvir Ennio Morricone assistindo ao por do sol.
Se os sorrisos e a certeza da dedicação
da mamãe fugirem da minha memória, por favor, encha uma vasilha de jabuticabas
e se sente ao meu lado para comermos juntas.
Se eu não tiver lembranças da nossa
infância de meninas, bata um suco de amoras (e coe) e me leve pra ver as pipas
no céu!
Se eu esquecer o alívio que as palavras
escritas me trazem, coloque em minhas mãos uma folha em branco e uma lapiseira
vermelha, ligue a música e me deixe, só por um tempo, sozinha.
Se eu não me lembrar de todas as
segundas chances que tive, me mostre a montanha mais alta e me conte que a
paisagem da minha vida foi vista de lá.
E, se eu esquecer as incríveis e
inesperadas surpresas da vida, me traga uma rosa branca e me faça sentir aquele
perfume.
Se eu não me lembrar da maneira como
vivi a vida, me conte a história “A moça tecelã” (da Marina Colassanti) e me
faça rir com as do macaco Simão.
Se, na pior das hipóteses, eu não me lembrar
do amor incondicional, peça, despretensiosamente, que eu olhe para meu pulso
esquerdo (e me diga baixinho que esse é o lado do coração).
Se um dia eu não me lembrar, me conte
dos meus amigos, dos amores, da alegria que eu tinha no trabalho e da
intensidade que eu desejava a vida.
E, enfim, se um dia eu for, e não
souber como voltar, me procure não nas curvas da minha memória, mas nas
esquinas da minha alma. Em algum lugar, escondida, certamente você me
encontrará!
:)
ResponderExcluirTocante, inteligente e dá vontade de escrever tudo igual...
ResponderExcluirLindo e tocante.
ResponderExcluirConseguiu me emocionar! Parabéns é belo.
ResponderExcluirLindo!!
ResponderExcluirMuito lindo!!
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