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Mostrando postagens de junho, 2017

DEPOIS DA DESPEDIDA VÊM AS PRIMEIRAS VEZES

Toda vez, a cena tem circunstâncias idênticas: jovens encerrando um ciclo e buscando diretrizes para planejar o que vem. Existe, sim, quem sempre se emociona com isso. Em especial nos finais de junho e de novembro. Ano após ano. Agora há pouco foi assim para uma quase profissional. Logo à minha frente. Mostrava algum desassossego, convicta de que em algum momento o sinal iria anunciar a última aula, a última prova. Não haveria alternativa a um derradeiro olhar à sala, às pessoas que foram companhia durante dez movimentados semestres. Pelo menos. Tudo na vida tem seu desfecho e traz consigo impressões que permanecerão guardadas como imagens intransferíveis e duradouras. Dentro de alguns dias, vislumbres de alegria no ar e no íntimo acompanharão os breves instantes da despedida oficial, que poderão ser muito intensos. Talvez venha a persistir nos olhos a teimosia de uma lágrima e, no coração, os sintomas de inquietação. Quem está plenamente preparado para os “nunca

A NAMORADA

A NAMORADA Estava há alguns dias numa cidade do sul do país, atendendo a empresários da indústria metalúrgica. Hotel na região central, perto de bares, restaurantes, sedes de empresas. Localização perfeita para quem tinha planos como os dele . Naquele final de tarde, quando retornava depois de cumprida sua agenda, estava fazendo check in uma mulher que lhe pareceu interessante. E também conhecida. Bem conhecida. Passou de propósito perto da recepção  e a chamou pelo nome: - “Sandra!” Ela se virou e logo o reconheceu. Haviam sido namorados em outras épocas. - “Você continua atraente, como sempre”, reconheceu.   Conversaram um pouco. Ela iniciava a carreira solo como cantora, estava na cidade para a reinauguração de um teatro nas proximidades. Apressada, precisava acompanhar os detalhes da montagem do espetáculo. Combinaram jantar juntos. Perto das nove, ele a aguardava no saguão. Sandra chegou toda alegre. Questões técnicas resolvidas, os músicos faziam o p

PEDRO NÃO PÔDE VIR

Saiu da Agência dos Correios, acabava de enviar a primeira carta para Letícia. Enquanto retornava ao trabalho, deixou suas lembranças dominarem o instante e voltou alguns anos no tempo, quando a conheceu. Aquele evento corporativo seria oportunidade para discutir assuntos de sua área de atuação profissional. Há muito vinha reconhecendo ser preciso mudar um pouco de ares, ainda que por três ou quatro dias. Sua rotina havia se tornado intensa. Uma ansiedade inquietante persistia rondando as poucas horas em que era possível refletir a seu próprio respeito. Lembrou-se daquela manhã em que percorreu a pé o curto trajeto entre o hotel e o local do encontro. Entrou no edifício para a rotina de identificação. Amigos se abraçando, expressões radiantes, um gostoso burburinho. Observou que os participantes vindos de longe estavam sendo recebidos por um representante local da empresa. - “Providência interessante.”, pensou. Apresentou-se e ouviu a comunicação: - “O Pedro não pôde

PEDAÇOS DO CÉU NO CHÃO

PEDAÇOS DO CÉU NO CHÃO Sentir-se seduzido pelas pontes seria acreditar nas possibilidades de travessia e superação. A isto se acrescentaria a ideia de minimizar separações, distender clausuras, desobrigar lembranças. Muitas vezes se fazem paisagens para reinaugurar impressões de pessoas e de acontecimentos. Como obras de arte, guardam para si prerrogativas de encantar, sugerir, sinalizar. Há tantos relatos de situações demonstrando a variedade de significados dessas estruturas de transposição. Alguns, até interessantes, não se conseguem comprovar. Outros são apenas fantasias. Outros, porém, são expressivas realidades. Enquanto acompanhava a conclusão da ponte pênsil (que também fazia a função de passarela para pedestres) sobre um conhecido rio paulista, presenciei uma situação inusitada. Estava começando a carreira acadêmica e as novidades se multiplicavam numa área a que poucos engenheiros então se dedicavam. Com o revestimento asfáltico aplicado sobre as vigas de r

MANHÃS AZUIS

MANHÃS AZUIS Um domingo desses acordei bem cedo. Como sempre... Dia lindo, céu azul. Lembrei-me das manhãs de domingo em minha cidade. Em especial dos sinos da igreja perto de casa: tocavam pontualmente às nove e meia. Saudoso, resolvi fazer uma visita a Rio Claro. Não pela rodovia, que me levaria até lá em menos de uma hora. Fui pelas vicinais, passando pelas ruas dos distritos, inclusive por aquele de onde minha família é originária (Ferraz). Deliciosa manhã! Ao chegar, parei o carro e andei pelos lugares em que costumava brincar e por onde passava para ir à escola, aos ensaios do grupo musical, ao cinema... A casa onde vivi por mais de quinze anos ainda está lá. Mas pouca coisa ao redor não sofreu alguma transformação. Vi a casa da moça de cabelos encaracolados, olhos cor de mel e que eu, uma criança com seus dez, doze anos, observava fascinado. Quando Lúcia casou, mudou-se para o Rio de Janeiro e nunca mais a encontrei. Um quarteirão abaixo, o jardim à

QUANDO MEU NUNCA MAIS SE TRANSFORMAR EM TALVEZ - Maria Cristina

QUANDO MEU NUNCA MAIS SE TRANSFORMAR EM TALVEZ Ele há de ter um olhar sedutor, envolvente, cativante e, principalmente, atento a mim; Terá mãos grandes e mágicas e conhecerá os meus mais sinuosos caminhos; Sua boca será quente e me fará gostar até do sabor amargo do café; Pode ser que ele tenha cara de moleque, jeito de menino, mas haverá de me mostrar, diariamente, que é um grande homem; Terá que me fazer acreditar e com sorte vai me fazer esquecer; Seu abraço servirá certinho em mim e será o meu lugar em qualquer lugar do mundo; Vai ser bonito, inteligente, criativo, cheiroso, charmoso (agora ficou fácil!!!) Vai me encher de beijos, carinhos e arrepios; Vai me fazer perder o medo, vai me fazer esperar e vai me colocar no meu lugar (porque é exatamente lá que eu quero estar); E será intenso para que eu nunca me acostume; Fará com que eu passeie entre a euforia frequente e o tão desejado equilíbrio; Permitirá escolh

CONFESSIONÁRIO

Muitos guardam cuidadosamente, dentro de seus recantos,  capítulos e passagens da vida. Coisas exclusivamente suas e que de nenhum modo serão declaradas. Mas não é assim com quem escreve. Em cada vocábulo há uma confissão, uma revelação. Quase não há segredos para os amantes das palavras. CONFESSIONÁRIO Minhas confissões estão nos poemas que escrevi, Nos versos, nas estrofes e nas entrelinhas, Minhas confissões me apontam, me delatam, E não me esconderão jamais, nem de mim. Minhas confissões me desvendam Como álbum de retratos e lembranças, Como traços a rascunhar imagens, Como símbolos e seus significados. Minhas confissões podem ser decifráveis Embora a compreensão exija algum esforço, Minhas confissões são as coisas plenas Que carrego pelos caminhos de minha vida.

ESTAMOS DE VOLTA

ESTAMOS DE VOLTA!   - Que ótima noticia! Vou ser a primeira pessoa a ler! Toda palavra revoga o silêncio. Algumas delas com mais intensidade, particularmente quando incentivam o retorno a algo que nos é muito caro. Às vezes o silêncio é confissão, às vezes é alimento. Às vezes é uma canção guardada para o próximo encontro. Não há silêncio sem significado. Alguns silêncios podem entristecer: terá sido provocado por uma palavra que deveria ter calado ou por um gesto que se poderia evitar? Outros inquietam: estará sendo causado por uma preocupação que ainda não cabe dividir ou por uma tristeza que ocupou espaço sem pedir licença? De todo modo, talvez seja melhor mesmo preferir o não silêncio, a troca de palavras, de impressões. De lembranças e de expectativas. Enfim, de tudo o que torna um convívio essencial e inesquecível. Por isso não há como negar que o vazio parece tomar toda a extensão da cumplicidade quando as palavras se calam. Retomá-las, apesar de dificuldad