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PEDRO NÃO PÔDE VIR



Saiu da Agência dos Correios, acabava de enviar a primeira carta para Letícia. Enquanto retornava ao trabalho, deixou suas lembranças dominarem o instante e voltou alguns anos no tempo, quando a conheceu.
Aquele evento corporativo seria oportunidade para discutir assuntos de sua área de atuação profissional. Há muito vinha reconhecendo ser preciso mudar um pouco de ares, ainda que por três ou quatro dias.
Sua rotina havia se tornado intensa. Uma ansiedade inquietante persistia rondando as poucas horas em que era possível refletir a seu próprio respeito.
Lembrou-se daquela manhã em que percorreu a pé o curto trajeto entre o hotel e o local do encontro. Entrou no edifício para a rotina de identificação. Amigos se abraçando, expressões radiantes, um gostoso burburinho.
Observou que os participantes vindos de longe estavam sendo recebidos por um representante local da empresa.
- “Providência interessante.”, pensou.
Apresentou-se e ouviu a comunicação:
- “O Pedro não pôde vir, ocorreu um imprevisto. Letícia vai estar com você no evento.”
- “Nossa, que linda mulher!”, surpreendeu-se.
Juntos se encaminharam para assistir às palestras. Muito simpática, logo se sentiu à vontade ao lado dela. A sala repleta indicava que a atividade já havia começado.
No primeiro intervalo, a afinidade entre eles já se manifestou. Conversaram como se conhecessem há tempos. Encantou-se com a inteligência dela.
Os sorrisos vieram espontaneamente, não queriam ficar longe um do outro. Assim foi durante todo o evento.
De volta à sua cidade, enviou uma mensagem. Ela respondeu em seguida. Outra mensagem, outra resposta: o cultivo do apreço se inaugurava de um modo irresistível.
Lembrou-se de algumas entre as tantas coisas que Letícia lhe havia proporcionado: pela primeira vez ganhou como presentes um poema, uma canção e palavras insubstituíveis. Ela foi a primeira pessoa que mencionou ter sentido saudade dele e a lhe deixar claro o que ele significava.
De algum modo, lamentou ter estado tão poucas vezes com ela.
Resignado, reconheceu ter sido muito feliz nesse tempo. Uma felicidade difícil de explicar, embora tão fácil de ser entendida.
Imaginou se Letícia iria gostar do que havia escrito na carta.
Naquela tarde, mesmo com sua intensa rotina de trabalho, reservou um bom tempo para avaliar como teria sido sua história recente se ao até agora desconhecido Pedro não houvesse ocorrido um imprevisto e ele tivesse sido seu anfitrião naquele inesquecível evento.

Comentários

  1. Adorei Chico! Adoro pensar sobre o acaso...

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  2. Engraçado... essa histótia se parece tanto com uma que aconteceu comigo. O melhor é que ganhei um Grande amigo no final do acaso. 🙄

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  3. Muito legal Rocco !

    Gosto de pensar que o acaso não é por acaso, que é muito mais que mera estatística; gosto de imaginar; de ver a poesia da situação; de viajar sobre as causas do acaso, a aproveitar as cousas do ocaso.

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