A NAMORADA
Estava há alguns
dias numa cidade do sul do país, atendendo a empresários da indústria
metalúrgica.
Hotel na região
central, perto de bares, restaurantes, sedes de empresas. Localização perfeita para quem tinha planos como os dele.
Naquele final
de tarde, quando retornava depois de cumprida sua agenda, estava fazendo check in uma mulher que lhe pareceu interessante. E também conhecida. Bem conhecida.
Passou de propósito perto da recepção e a
chamou pelo nome:
- “Sandra!”
Ela se virou e logo o reconheceu. Haviam sido namorados em outras épocas.
- “Você
continua atraente, como sempre”, reconheceu.
Conversaram um
pouco. Ela iniciava a carreira solo
como cantora, estava na cidade para a reinauguração de um teatro nas
proximidades. Apressada, precisava acompanhar os detalhes da montagem do espetáculo.
Combinaram
jantar juntos.
Perto das nove, ele a aguardava no saguão. Sandra chegou toda alegre. Questões técnicas resolvidas, os músicos faziam o primeiro teste do som.
Foram ao
jantar. Ela, bem humorada, queria contar e ouvir histórias. Recordaram passagens do seu tempo e se divertiram com as lembranças.
- “Uma noite
pra não esquecer”. Pensou, considerando as possibilidades.
Depois do
jantar, Sandra lhe deu um ingresso, convidando-o para o show da noite de estreia,
e mencionou que iria lhe apresentar uma pessoa, de quem desejava muito que ele
gostasse.
Mais uns
instantes surgiu outra mulher, um pouco mais jovem. Alta, olhos claros, cabelos
curtos. Também sorridente. À mesa onde estavam foi feita a apresentação:
- “Prazer,
Mariana!”
Sentou-se ao
lado de Sandra e as duas se deram as mãos. Talvez o ar surpreso dele tenha
provocado a revelação:
- “Estamos
juntas há dois anos! Mariana é minha namorada e a percussionista da banda que
me acompanha.”
Logo depois,
Sandra sugere:
- “Vamos,
querida?”
Despediram-se dele
e foram em direção ao elevador.
Ficou olhando
para sua ex-namorada e para a atual namorada dela. O modo afetuoso como se abraçavam
e os beijos trocados evidenciaram que teriam um cativante caminho pela
frente. Não somente nas próximas horas, mas nos próximos meses, anos ...
Enquanto fazia a síntese do que
acabara de vivenciar, avaliou a conveniência de aceitar o convite recebido. E recolheu-se
bem antes do que imaginava.
Durante todo o
dia seguinte não conseguia disfarçar a ansiedade.
À noite, chegou
cedo ao teatro. Assistiu em silêncio ao espetáculo.
No final, foi o
primeiro a se levantar. Para aplaudir de pé.
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