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LISBOA NÃO LHE PARECEU ACOLHEDORA



Ao regressar para casa, houve atraso na conexão em Barcelona. Aproveitou para refletir a respeito dos acontecimentos dos últimos dias.
Na semana anterior havia comemorado seu aniversário de um jeito diferente do que pretendia. Imaginava receber como presente a reciprocidade do afeto por parte de quem era o foco de seu envolvimento. Mas não tinha sido assim.
Havia percebido com clareza que tal expectativa não se consumaria e as consequências poderiam deixar marcas de frustração. Os projetos de vida eram antagônicos e um relacionamento promissor acabaria se transformando em convivência parcial, durante o curto intervalo de tempo que ainda tivessem à disposição.
Mesmo por alguns dias, uma viagem talvez fosse alentadora.
A caminho de Portugal, a passagem pelo Aeroporto de Milão havia sido cansativa e pousar em Lisboa foi um grande alívio.
Alguns minutos no Metrô, troca de linhas em Alameda. Em seguida, a Estação Roma e finalmente um pouco de descanso no hotel. Ansiava por uma noite reconfortante.
Depois do banho, buscando esquecer as dificuldades que enfrentava, adormeceu rapidamente.
Acordou e tentou reunir disposição para conhecer a cidade.
Diante das informações disponíveis, era preciso eleger o que visitar. Sentiu muito a falta de um interlocutor, alguém cuja presença facilitaria as escolhas e renovasse seu ânimo.
Nas viagens anteriores contava sempre com deliciosas companhias, que convertiam todas as descobertas em inesquecíveis aventuras.
Surpreendeu-se percorrendo apressadamente Alfama, Baixa Chiado e o Castelo de São Jorge. Do Cais do Sodré tomou um Elétrico até a Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerônimos. Depois, a Praça Marquês de Pombal e outros pontos.
Três rápidos dias e de novo no Aeroporto.
Embora ensolarada e colorida, Lisboa não lhe havia parecido acolhedora.
Essa espera em Barcelona confirmou sua impressão, pois pôde rever as fotografias do passeio e observar vestígios de melancolia em seu semblante.
Imaginou como tudo teria sido gratificante se Rodolfo estivesse ao seu lado nesses dias. Certamente teria trazido palavras oportunas para mudar seu humor, palavras que gostava de ouvir e levar consigo como sinais do apreço compartilhado.
A presença de Rodolfo teria permitido que ela voltasse a se sentir única. Era exatamente o que necessitava naquela hora. Mas também não havia sido assim.
Com o olhar perdido no amplo saguão do Aeroporto, ouviu o serviço de som fazer a última chamada para seu voo.
Era hora de retomar a vida.

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