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DUAS ENGENHEIRAS E UMA DÚVIDA




Ana Laura e Camila são duas engenheiras que estão desenvolvendo seu doutorado comigo.
Assíduas leitoras a partir do retorno deste blog, vivem trazendo suas opiniões referentes àquilo que foi postado, discutindo aspectos dos textos e sugerindo temas para as futuras publicações.
Nesta semana, depois de lerem e, segundo elas, relerem e relerem o post “Pedro não pôde vir” (http://dosesoblogdochico.blogspot.com.br/2017/06/pedro-nao-pode-vir.html)
tiveram sua curiosidade despertada e me indagaram a respeito do teor da carta que o narrador da história havia encaminhado para a personagem Letícia.
- “Humm... por que vocês acham que eu saberia?”
Bem, esta resposta pareceu-lhes não convincente.
- “Ah, professor, claro que sabe!”
Tentei outro argumento, mencionando que a leitura deve permitir à imaginação alçar seus voos diante dos conteúdos aos quais houve acesso.
Disse também que esta liberdade, ao levar as pessoas ao exercício da criatividade, pode estabelecer os elos da história dos modos mais diversos e possibilitar os mais variados entendimentos.
Perguntei, então:
“O que vocês supõem que estava escrito naquela carta?”
Durante a conversa, cada uma deu a sua opinião, sem dúvida tendo como referência algo que já vivenciaram ou que gostariam de experimentar em futuro imediato ou mais distante.
A próxima questão era mais do que esperada:
“E você, professor, o que imagina?”
Sem querer fugir da resposta, mencionei que, sendo a primeira carta que o narrador enviava a Letícia, seu desejo seria deixar algo tangível nas mãos dela, pois toda a comunicação entre eles até então havia sido feita por via eletrônica. Seus diálogos estavam nas “nuvens da informática”.
Apenas aparentemente persuadidas, comentaram ao retornar para sua rotina de estudos:
“Interessante...”.
Antes de voltar às minhas atividades, também me coloquei a cogitar a respeito.
Talvez ele tivesse feito a promessa de enviar a carta (eventualmente Letícia nunca houvesse recebido uma) para que ela experimentasse esta sensação de primeira vez.
Além disso, como se viam muito pouco e não sabiam quais os caminhos que a vida iria permitir a cada um deles, a existência de um papel escrito viria a ser importante para que ela se lembrasse dele de um jeito menos imaterial.
Ou, ainda, talvez ele esperasse por uma resposta escrita para se recordar dela de um jeito menos imaterial.
Haveria outras possibilidades? Certamente sim! A vida real é repleta de possibilidades.
Por um instante ponderei em como a própria Letícia teria recebido tal carta.
Bem, isto somente ela poderia responder.

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