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Mostrando postagens de outubro, 2014

PAUSA

Aos nossos prezados leitores: Informamos a todos vocês que, durante alguns dias, nosso blog não receberá novas postagens. Atendendo a várias sugestões, nesta pequena pausa serão tomadas as providências para atualizar o visual e efetuar alguns ajustes no conteúdo, objetivando melhor acolher a todos aqueles que nos visitam. Entretanto, os posts anteriores permanecerão acessíveis. Por isso, mantemos o convite para que continuem acessando o blog e nos proporcionando a satisfação da leitura cotidiana de nossas DOSES. Maria Cristina e Chico

A CONCERTISTA - Chico

Nas cidades do interior quase todas as pessoas se conhecem. As histórias e as intenções de todos, ou de quase todos, são de domínio público. Mas, há sempre segredos que se preservam, às vezes por muitos anos, às vezes por toda a vida. A jovem pianista era talentosa. Suas mãos e sua postura eram diferenciadas. No final do curso, no conservatório local, passou a fazer apresentações individuais. Muita gente comparecia ao teatro. Nas cadeiras do fundo, despercebido na plateia, alguém ouvia e era cativado pela moça. Não somente com seu talento, mas com seu sorriso e seu jeito de quase mulher. Mas era preciso que a pianista se aperfeiçoasse e veio a mudança para a capital. Durante algum tempo, nos encerramentos de ano se programavam audições especiais, proporcionadas pela então jovem concertista, que presenteava a cidade com sua desenvoltura. Nas mesmas cadeiras do teatro, o homem deixava que o encanto pela pianista ganhasse mais espaço em sua vida. Mesmo que a pudesse ver e ouvi

ÉPOCA DA INOCÊNCIA - Chico

Aquele era um tempo, num lugar prefigurado, onde a maioria das casas possuía largos quintais e vizinhança dedicada. Apenas algumas dispunham de seda nas mesas alongadas ornando as salas, com vitrais coloridos e prataria bem cuidada. Os meses pareciam correr mais lentamente e não era preciso copiar as chaves das portas, nem lhes posicionar rigorosos obstáculos: as crianças podiam sair e brincar a qualquer instante, mesmo sem adultos ao seu lado. A singeleza da inocência de uns poucos lhes permitia aos olhos não identificar os inconfessáveis desejos de posse e a antecipada nostalgia provocada pelas iminentes partidas. Havia os bailes para aproximar as mãos e os corpos dos que se impacientavam com a monotonia das noites iguais, rendendo-lhes promessas que nem sempre seriam observadas. Aos poucos, percebeu-se que o compasso do tempo não poupava colos e faces, mas acentuava distâncias, impedindo ao abraço a entrega e ao beijo a convicção de absoluta afinidade. À lembrança resta

REINVENÇÃO - Chico

A vida se mostra sempre disposta a renovar as suas razões para reconstruir os nossos motivos. Assim, aquilo que se foi abre espaço para o que virá: um irrecusável convite para reinventar os gestos e as medidas. REINVENÇÃO Os versos antigos incluíam hermética aparência, Depois vieram os silêncios, a noite e os sonhos. A manhã trouxe a consciência das palavras restauradas: Era tempo de redirecionar o fluxo da imaginação. Não fossem apagados os sinais da origem e da audácia, Mas não faltassem motivos para assegurar a esperança. Apenas se soubessem presentes os olhos dispostos E as tintas para colorir o branco dos novos passos. Seria também necessário que, habitualmente, As mãos estendidas se concedessem, acolhedoras. Seria imprescindível, por fim, a sólida decisão De reinventar a cada dia o gesto e a poesia.

SER FELIZ PARA SEMPRE ou MANHÃ DE OUTUBRO EM SINOP - Chico

Quatro anos depois, voltei a SINOP, Mato Grosso. Mais uma vez a satisfação de atender a um convite dos amigos para palestras, proposição de pesquisas, visitas a empresas: atividades relacionadas diretamente à minha atuação acadêmica. Quem me conhece sabe do meu gosto pela cidade e já me ouviu repetir uma dezena de vezes que – fosse eu bem mais jovem – nela começaria minha vida profissional. Mas, como a vida não aceita condicionais, vou me contentando com essas visitas periódicas. Há quatro anos, uma cena me marcou. Seu relato se transformou num dos posts mais acessados deste blog ( Cantigas de ninar ou Noite de setembro em SINOP, 26.08.2014 ). Passeando pelas proximidades do hotel onde então estava hospedado, observei numa das casas a delicada mãe acalentando seu bebê e me lembrei de quando eu ninava minhas meninas. Desta vez, com algum tempo livre na calorosa manhã norte mato-grossense, me aventurei a outra caminhada. Coincidentemente, me vi na mesma rua e na mesma quadra

UM POUCO DE "DOSES" - Chico

Toca o celular. - Olá, Professor, bom dia! Tudo bem ? - Tudo certo! E com você? - Normal! Estranhei que não havia nada novo postado no blog e pensei que pudesse ter acontecido alguma coisa. Expliquei ao meu amigo que nada grave havia ocorrido. Foi uma opção circunstancial: como eleição é algo da maior seriedade, neste cenário seria melhor permanecer um ou dois dias “em silêncio” para que todos se concentrassem no exame final dos candidatos e votassem de modo consciente. Algumas mensagens haviam chegado mais cedo e, em seguida, outros dois telefonemas trazendo a mesma pergunta acabaram movimentando minha manhã de sábado. Fiquei pensando no significado destes contatos não esperados – mas muito valiosos – bem como nas decorrências positivas para os dois criadores deste espaço onde histórias são contadas de modo descomplicado. O objetivo fundamental ? T ornar um pouco mais coloridos os  dias de nossos leitores. Uma vez mergulhado nesta avaliação, até recorri aos comentár

ENCONTROS NOS FINS DE TARDE - Chico

Todos os dias, aquele homem voltava de seu trabalho às cinco e meia da tarde. Vivia uma cotidiana rotina, depois de entrar em casa. Um copo d’água ao abrir as janelas; os pés descalços e um rápido passeio pelo quintal para recolher as roupas penduradas no varal que unia um arbusto a um parafuso fincado no muro. Uma rápida limpeza no estreito cimentado, a volta à cozinha para preparar a refeição, sorvida com pálido entusiasmo. Depois, lavava o prato, os talheres, lia alguma coisa enquanto o rádio transmitia as notícias de sempre. Em seguida, as horas de sono, em geral inquietas, esticavam suas noites. Durante algum tempo, uma novidade passou a compor seus instantes vespertinos e se tornou indispensável. Resolvera prender  um recipiente com água açucarada  no arbusto próximo ao muro, convidando os beija-flores a essa bebida. Um desses pequenos pássaros aceitou o convite e pousava, invariavelmente às cinco e meia da tarde, sobre o recipiente. Assim, deixaram de se sentir sozi

EXPECTATIVA TARDIA - Chico

Ser conhecido e reconhecido pelos filhos, ou pelas filhas. Pais têm sempre este desejo. Ao repassar a vida, constato que muitas vezes acalentei esta provável utopia, que poderia ser resumida na pergunta: o que estaria faltando para que minhas filhas me conhecessem como sou? Já me sabem como pai, nas diferentes fases de suas vidas; já me observaram no exercício da profissão; já me olharam como integrante de comunidades religiosas; já me viram lidando com os variados perfis das pessoas que se aproximam e permanecem ao meu lado, por intervalos de tempo mais curtos ou mais longos. Já atentaram para as minhas preferências filatélicas, futebolísticas e assemelhadas; já puderam ponderar a respeito de meu humor; já captaram minha porção motorista a qual as leva para um constante estado de sonolência, a qualquer hora do dia quando andam de automóvel comigo; já leram parte significativa dos textos que escrevi e das músicas que compus. Penso que minhas filhas sabem como sou. Contudo,

ROSA DOS VENTOS - Chico

Quase sempre é possível fazer escolhas. Às vezes, porém, a vida cisma em decretar nossos destinos e nos surpreender com laços de felicidade não projetada. Acredito que você saiba do que estou falando. ROSA-DOS-VENTOS As direções são múltiplas, complementares, inconclusas: As passagens podem ser mais sinuosas, ou nem tanto, Nelas, as pausas esparsas propõem mais em sua quietude Que os passos apressados que o caminho requer. O néctar suavemente inoculado no sangue da alma Alcança seus objetivos no silêncio das madrugadas, Tece seus enredos seduzindo os intentos e os atos, Incitando os temores a esgotarem seu domínio. Com a alvorada, novos semblantes vertem sorrisos Substituindo as lágrimas nos olhos restaurados, Passam a importar apenas o toque e o acolhimento: Destinos são laços, seus capítulos edificam o sempre.