Quatro anos depois, voltei a SINOP, Mato Grosso. Mais uma vez a
satisfação de atender a um convite dos amigos para palestras, proposição de
pesquisas, visitas a empresas: atividades relacionadas diretamente à minha atuação
acadêmica.
Quem me conhece sabe do meu gosto pela cidade e já me ouviu
repetir uma dezena de vezes que – fosse eu bem mais jovem – nela começaria
minha vida profissional. Mas, como a vida não aceita condicionais, vou me contentando
com essas visitas periódicas.
Há quatro anos, uma cena me marcou. Seu relato se transformou
num dos posts mais acessados deste blog (Cantigas de ninar ou Noite de
setembro em SINOP, 26.08.2014). Passeando pelas proximidades do hotel onde então
estava hospedado, observei numa das casas a delicada mãe acalentando seu bebê e
me lembrei de quando eu ninava minhas meninas.
Desta vez, com algum tempo livre na calorosa manhã norte
mato-grossense, me aventurei a outra caminhada. Coincidentemente, me vi na
mesma rua e na mesma quadra pelas quais havia passado na visita anterior.
Curioso, procurei pela casa e a enxerguei um pouco mais adiante.
Havia algum movimento na calçada e, por esta razão, diminui o ritmo dos passos.
Sentadas num dos degraus de acesso à varanda, lá estavam uma mulher e uma
criança.
Pelo modo de se expressarem, confirmei que eram mãe e filha. Provavelmente
as mesmas que me encantaram naquela distante noite de setembro.
Neste momento eu já havia parado, simulando atender a uma
chamada no celular.
A mãe parecia estar contando uma história cujo final era um
cenário de “e foram felizes para sempre”. E veio uma pergunta, daquelas que
meninas de cinco, seis anos fazem aos pais e os deixam quase sem resposta:
- Mamãe, porque o vovô trabalha em
Juína*?
- Por que você
quer saber isto, filha?
- Se o vovô morasse aqui a gente
seria feliz para sempre.
- Mas você não é
feliz, minha filha?
A expressão facial da menina e o tom da
conversa me levaram a retomar minha caminhada, não sem antes voltar-me para
mais um olhar àquela cena.
No retorno ao hotel, a imaginação se
intensificou. Fixei-me na menina e em suas perguntas, nos últimos quatro anos,
nos próximos anos, nas pessoas a quem amo e naquelas que me amam. De repente,
me vi pensando em mim mesmo (algo que não tenho feito com muita frequência) e
nas coisas que ainda espero realizar, apesar das ausências e das eventuais
saudades que esta vontade acaba provocando. Arrisquei uma pergunta a mim mesmo:
- Não
estaria na hora de eu começar a ser feliz para sempre?
Em silêncio, entendi que ainda preciso
completar minha definição de “ser feliz
para sempre”.
Horas depois prometi a um velho amigo da
UNEMAT voltar a Sinop, no início de 2015. Na viagem de volta, com os olhos
umedecidos e o coração apertado, cogitei não cumprir esta promessa.
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