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QUANDO VEM A AURORA - Chico



Quando vem a aurora, ficam expostos os critérios que revelam a extensão da noite. Se breve, tremulou a paz na maciez dos lençóis; caso contrário, terão sangrado temores e seus ásperos empecilhos.

Há quem busque o consolo nas madrugadas, se agasalhe com as conversas insones em bares tardios e amanheça animadas fantasias.

Outros, nestas horas, montam decisões e estratégias para os embates que os esperam, enquanto acalentam a sensação de que jamais estarão sujeitos a equívocos.

Há tantas e tantos.

Quanto a mim, o sono está acostumado a me convocar pouco depois das onze, retendo-me até quase às seis. Também me habituei aos rigores desta convocação. Minhas noites têm sido breves.

Quando vem a aurora, certamente o encontro com ela me estimula, incitando veias, artérias e pulsação. Esta festa matinal desafia meus limites (usualmente muitos) pois é preciso reduzir-lhes o número e a abrangência.

Declarando minha paixão pelo dia, saúdo as expectativas, tento transformá-las em palavras e gestos, estabelecendo meu ritmo em seu significado.

Como parte de meu cotidiano, me faço disponível para semear esperanças admissíveis. Neste tempo, tenho também me colocado à procura de um poema simples e de um relato preciso. É possível que alguém se alegre com eles. Há tantas coisas possíveis.

Sim, há muitas coisas possíveis quando vem a aurora...


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