Pular para o conteúdo principal

HOUVE UMA VEZ UM VERÃO - Chico


Cinema é algo fascinante, com seus filmes plenos de aspectos que surpreendem, emocionam e possibilitam diferentes viagens. Tocam nos sentimentos por meio das imagens desfilando diante dos olhos e estes se deixam possuir pela sensação de poder, disponibilizada nas fantasias que brotam das telas e invadem os demais sentidos.
Às vezes algo soa curioso. Como os títulos de algumas obras e suas traduções: Summer of '42, por exemplo, resultou em Houve uma vez um verão. Mas, neste caso, o título se harmonizou com a trama, numa expressão da singeleza e da sensibilidade.
O estar adolescente em meio às agruras da Segunda Guerra Mundial não foi uma situação confortável. Ainda mais quando amigos e amigas sabiam muito de ansiedade e inconsequência, porém pouco sobre sensatez e ternura. Aliás, parece ter sido sempre assim.
Ilhas, noites e férias convidam, seduzem. Os anos verdes concedem a permissão de conjeturar a respeito das mulheres mais experientes, mais sábias. Por isso, mais lindas e mais desejadas.
As projeções são inevitáveis e viabilizam histórias que serão rememoradas por toda a existência. No instante de iniciação para o jovem e de permissão para a mulher circunstancialmente sozinha, aprendeu-se mais do que durante os períodos de descompromisso anteriores e posteriores.
Naquele verão, ocorreu o princípio do entendimento, em especial da finitude humana. Percebeu-se que, para cada coisa que se assimila e se incorpora ao espaço da vida, outra precisa ser abandonada em algum lugar do tempo. O provável nunca mais voltar a ver significou um pedaço de morte. Todos morremos um pouco, a cada dia: o passo sem retorno, a palavra que se calou, o beijo adiado, a perplexidade diante do que se faz cotidianamente passado.
Haverá a inevitável lembrança da mulher que se idealizou e, uma vez encontrada numa situação perfeita, ficou perdida em impossibilidades definitivas. Aquela que, mesmo tendo sido a síntese real de um momento mágico, se transformou em permanente enigma para o coração e a mente.
E seguimos. Certamente recordaremos, com muita frequência, que também em nossas vidas terá havido, uma vez, um verão.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BÉSAME

  BÉSAME (ouça https://www.youtube.com/watch?v=TUVM4WdXMLs enquanto faz a leitura)   Durante muitos anos, Paulo foi profissional da música, cantando em restaurantes, bailes e outras festas. Gostava destes trabalhos. Porém, por causa deles, raras vezes teve a oportunidade de dançar, nos moldes românticos ainda viáveis naquele final da década de 1980. Para ele, dançar era um ato de magia, bem mais que o simples compartilhar de mãos, movimentos e expectativas. Esta era sua percepção e acreditava nela apenas se houvesse alguma cumplicidade entre os envolvidos. Entretanto, sempre há os dias em que algo inesperado acontece. Havia um clube, em sua cidade, que programava as chamadas Noites Temáticas. Num sábado sem trabalho, foi à boate. Decoração como convém, luzes contidas, músicas falando dos diversos tipos de amor: boleros e outros ritmos do gênero. Os passeios de sempre pela penumbra do salão e, de repente, Paulo encontrou uma linda mulher, de pele e cabelos morenos, ol...

ALGUNS VERSOS SINGELOS

  Imagem:@hertezpuggina ALGUNS VERSOS SINGELOS   Por alguns versos singelos, Sem rimas (elas não são essenciais para mim) Lá se foram algumas horas de minha vida.   Espero que alguém os leia, em algum lugar, Em algum momento, em alguma circunstância, Em algum fim de tarde despretensioso.   Ou... que o tempo os conduza Num vento bem suave, mas preciso, Para que encontrem seu pouso sereno Num coração acolhedor E ali habitem para sempre.

OLHARES

  OLHARES Olhares são flechas precisas que atravessam distâncias, elucidam segredos e estabelecem conexões. Podem revelar afeto, inquietude, admiração. É no cruzar de olhares que muitas histórias começam e emoções florescem: olhar é mais do que observar; é perceber, compreender e sentir. Olhares requerem reciprocidade para se tornarem poemas de vida.   Olhares que acolhem são espelhos do infinito que habita A singeleza de momentos que palavras não descrevem; Olhares que abrigam a doçura de confissões já declaradas São gestos que transformam dias comuns em celebrações. Olhares generosos enxergam além da superfície, E elaboram pontes substituindo abismos. Olhares generosos são rios que fluem sem cessar, Envolvem o mundo, prontos a entender o que é invisível, E a vivenciar o que se exprime na simplicidade de um gesto.   Olhares generosos não julgam, mas compreendem com a alma, São como a ternura silenciosa que se concede, sem pedir nada em troca.