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A VIDA TEM DESSAS COISAS - Chico


A VIDA TEM DESSAS COISAS

Eu chegava a um hotel da cidade histórica para um compromisso profissional. Claro que esse hotel ficava em frente a uma praça: ingrediente imprescindível a narrativas como esta. Era perto das três da tarde.

Cruzando a praça, uma mulher me chamou a atenção pelo porte e pela beleza. Seus passos acelerados sinalizavam que a pessoa com quem ela iria se encontrar era especial.

Acompanhei a cena bem de perto. Segundos depois um afetuoso abraço confirmou minha hipótese. Era visível o quanto se queriam bem e a ternura entre eles me contagiou.

Enquanto trocavam palavras e sorrisos, uma chuva fina começou a cair. A mulher abriu uma colorida sombrinha – que parecia pequena para abrigá-los – e ambos caminharam juntos até uma lanchonete nas proximidades.

Havia um detalhe específico que os caracterizava. Talvez não seja tão importante destacá-lo nestas linhas.

No início da noite, meus amigos viriam me buscar para o jantar. Saí para esperá-los em frente ao hotel e me surpreendi novamente com a linda mulher passando por ali, ainda ao lado daquele com quem se encontrara horas antes. Dialogavam animadamente e conservavam a mesma delicadeza nos gestos. Seus semblantes não poderiam revelar maior alegria.

Por algum tempo, continuei acompanhando a cena. Andavam devagar e seguiram despreocupados pelas ruas adjacentes, até se misturarem com os demais que percorriam o lugar. Não voltei a vê-los naquele dia. Todavia, é impossível não me lembrar deles quando preciso me referir a exemplos explícitos de afinidade.

Aquela circunstância criou em mim a expectativa de que o casal permanecesse unido por muito tempo. Porém, devo admitir: pelo motivo que não coube destacar nestas linhas, restou-me bem mais que a impressão de que a minha expectativa – infelizmente – não iria se consumar.

A vida tem dessas coisas.

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