O melhor amigo de quem gosta de
histórias, apesar de todo aparato tecnológico disponível, é, ainda, um lápis.
Ou seria melhor eu falar por mim e dizer que meu melhor amigo (sim, sou uma
apaixonada por histórias) nesses últimos tempos é um lápis?
Na verdade uma lapiseira:
vermelha, cheia de vontade própria, nada discreta, que se joga na minha mão a
cada microssegundo de inspiração.
Lembro-me das minhas primeiras palavras escritas: eram
quase "desenhadas" com grafite (incrível como parece que faz tão
pouco tempo). Em quase todas as tentativas de juntar letras e sílabas se fez
necessário o uso da borracha, leal companheira, salvadora de garranchos,
descaprichos e erros.
O lápis, se bem acompanhado, a seu modo permite o retorno, o
recomeço, o ajuste.
História nenhuma traça seu caminho sem uma borracha que,
debochada e leve, vive do prazer de desconstruir, derrubar, apagar e mudar as
rotas (e sem grandes dificuldades).
Canetas assinam documentos, não contam histórias. São
arbitrárias, seguras, prepotentes demais, donas de uma verdade que não existe.
Canetas não permitem alternativas.
Parece-me que, cada vez mais, buscamos escrever a história mais
linda de todas, a nossa, com tinta definitiva. Borrões e marcas seriam
inevitáveis.
Escolho escrever minhas linhas com minha boa e velha
companheira, e permitir os arranjos cabíveis.
Paro, reflito (e talvez tenha que usar a borracha): quem foi que
disse que a história da vida é escrita por nós? Prepotência dos amantes de
histórias.
Acreditam, ingênuos, que a vida é como uma folha em branco que
aceita inícios, meios e finais lindamente arquitetados.
Talvez (quem sabe?) ela seja uma história escrita a caneta, sem
ensaios, sem testes e, pior, sem a possibilidade de ser apagada ou reescrita.
Borrada ou não é única, curta e definitiva. E então? Pra que serviria a
borracha?
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