Sob a ponte, numa distante
vereda, as águas calmas são como carícias vertidas nas horas que inauguram a manhã.
A
estreita ponte, lavada no final da noite com gotas de orvalho, ainda espelha uma pequena porção do céu. A infância adorável do dia irrompe despretensiosa, anunciando ingênuas canções.
Logo os passos se reencaminham, pisando pedras soltas ao longo da trilha conhecida. Ao lado, as casas coloridas não expressam qualquer ostentação. Embora estáticas, se fazem cada vez mais distantes.
Nas próximas horas parecerá não ter havido qualquer ponte pessoal. Os embates pela vida se estenderão com tal intensidade que os sentidos vão se afastar das carícias da imagem matinal.
Mas concessões são necessárias: não é fácil subsistir às dores que insistem diante dos olhos. Assim, as
águas deslizando sua limpidez ocuparão nossas lembranças de serenidade em meio ao alvoroço nas ruas, nos escritórios, nas fábricas, feiras, escolas.
Mas virá a hora em que o coração, ainda um pouco
selvagem, apesar de aliviado, reconduzirá o corpo até nossa ponte, na distante vereda, sob a
qual continuarão a verter as águas calmas, espelhando o começo da noite e a renovação do silêncio e da paz.
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