Aeroportos me encantam pela grandeza, impressionam
pelo poder (de me permitir ir pra onde quero ou devo estar) e me enfeitiçam
pelos mistérios que sabem guardar.
Num dia desses, por conta dos atrasos, quase
recorrentes nas decolagens brasileiras, resolvi tirar os olhos do meu livro e
usar o tempo ocioso para observar quem passava por ali. Quantos sonhos, quantas
angústias, quantas aventuras, saudades, segredos. Quantos desejos e quantos
destinos cabiam naquele lugar?
No primeiro segundo após a decisão de refletir,
enxergo à minha frente uma mulher. Carregava uma bolsa no braço, parecia aflita,
andava de um lado pro outro consultando e escrevendo alguma coisa em seu
celular.
Logo sentou-se ao meu lado uma
garotinha linda, branquinha de cabelos claros, se expressava pouco e quase não
sorria. Olhei pra ela, com olhos de quem pede. E ela falou. Seu nome é
Luísa, tem 8 anos, de vez em quando falta à aula da sexta-feira e vai passar o
fim de semana na casa do pai. Viaja pra isso. Disse-me que o problema é que às
sextas-feiras ela tem aula de culinária e não quer perder as preparações, pois
gosta muito de cozinhar (invejável problema o das crianças... eu, adulta
calculista, pensei que o maior empecilho fosse o pai morar longe demais).
A terceira figura apareceu falando alto ao
celular. Pelo que entendi era advogada, carregava uns processos e pedia
explicações a um suposto cliente. Ao lado dela, tentando se concentrar, um
homem trabalhava no computador portátil e olhava pro relógio a cada 30
segundos.
Havia muita gente ali, mas quase ninguém
conversava. Alguns liam, outros observavam a movimentação e a grande maioria
buscava entretenimento em seus dispositivos móveis
(santos companheiros nas longas horas de solidão!). Enfim tomamos nossos
assentos, as portas se fecharam e certamente o deslocamento foi mais breve que
a longa espera que grande parte dos passageiros tinha acabado de enfrentar.
No desembarque vi Luísa correndo em direção a
alguém. Esperava ver o pai, mas se tratava de uma senhora. Supus que fosse
a avó.
A advogada, atrapalhada com seus processos,
continuava ao telefone enquanto esperava por sua bagagem. Pelo tamanho da
mala, imaginei que a permanência pudesse ser longa.
Na saída vi novamente o rapaz, o que tentava
trabalhar em meio ao discurso empolgado da doutora. Ele seguiu em
direção a um homem que segurava a placa com letras garrafais: AmBev (foi aí que
entendi...). Será que ainda conseguiria cumprir seus deveres profissionais?
Fora do aeroporto, tomei um táxi em direção a meu
destino e, já com o veículo em movimento, avistei a mulher da
bolsa (a que não largava o celular). Num lugar menos cinza, logo ali onde o sol
podia alcançar, foi recepcionada por um caloroso abraço de um homem que a levou
dali num carro preto.
No
fim de um dia cansativo de trabalho, retornei ao aeroporto (sempre achei muito
bom ir, mas voltar também tem seus encantos). Dessa vez sem atrasos e sob um
céu já sem sol. Ainda assim, tive tempo e vontade de imaginar quão doce
poderia ter sido o dia daqueles dois que se (re) encontraram, ali, naquela
mesma manhã fria de inverno, algumas horas atrás. Pensei no quanto que aquele raro calor teria enchido de alegria o breve dia daquele casal.
Creio que podemos ter diversos lugares no mundo. Jamais saberemos quantos. Quem há de compreender o que ocupa o espaço dos corações das pessoas?
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