Pular para o conteúdo principal

O QUE APRENDI COM MEU PAI - Maria Cristina


O que aprendi com meu pai

Num dia desses vi num letreiro (comum a quem circula pelo metrô paulistano) uma propaganda que prometia ser o melhor presente para nossos progenitores. Um livro intitulado: O que aprendi com meu pai.

Sei lá, era um momento propício e comecei a pensar sobre o que tinha aprendido, ou não, com meu pai. A princípio foi difícil imaginar como eu poderia ter sido melhor se tivesse aprendido mais...

Eu não aprendi a calcular coberturas nem a fazer uma ponte parar em pé sustentada apenas por fios. Não sei absolutamente nada sobre a resistência dos materiais...

Infelizmente não aprendi a tocar piano, nem violão;
Não aprendi a compor melodias, escrever versos, rimas, contos. E os artigos científicos? Acho que nem se tivesse outra vida!

Não aprendi a acordar cedo (e de bom humor), não aprendi sobre os selos e artigos filatélicos;

Digamos que tenha tido certa sorte por não ter aprendido “a arte” de comer fandangos e biscoitos de forma empolgada e barulhenta.

Apesar desses não aprendizados ainda me causarem certo incômodo, se essa é uma boa palavra, aprendi com meu pai:
o que já foi é passado.

Ocorreu-me que sou aquilo que aprendi e não o contrário.

Foi com meu pai que aprendi a fazer e a empinar pipas;

Aprendi a ouvir Jobim, Chico, Gil e Elis; a ler Vinícius e Drummond;

Aprendi a colher amoras e a preparar deliciosos sucos com elas;

Aprendi a fazer bolachinhas de nata;

Aprendi a soltar barquinhos nas enxurradas;

Aprendi a contar e a ouvir histórias de bicho e de gente;

Foi meu pai quem me ensinou que não existe, na face da terra, amor maior que o de pai e mãe: demorei quase 30 anos para aprender essa lição. Aprendi!

Aprendi que pelos filhos fazemos o que for preciso, ainda que eles tenham mais de 30 anos (e acreditem que já sabem andar sozinhos);

Aprendi que ações e exemplos ensinam mais que palavras;

Aprendi que princípios não se perdem;

Aprendi que Aquele lá de cima, apesar de todos os meus erros, me ama e me perdoa;

Aprendi que a honestidade começa com pequenas atitudes e a simplicidade é uma virtude;

Aprendi a importância da presença;

Aprendi que apesar das semelhanças somos seres únicos e que não cabem as comparações;

Aprendi o valor de uma palavra e de uma risada;

Aprendi que os homens inteligentes choram mais que os tolos.

Foram tantas as lições que ficaria aqui por páginas e páginas enumerando-as.

E depois dessa breve reflexão percebi que ter aprendido a contar histórias foi, para mim, muitíssimo mais importante que conhecer cálculos e entender dos testes de tração, compressão e flexão.

Era uma vez um macaco muito esperto e brincalhão
que se chamava macaco Simão...


Comentários

  1. Que beleza Maria Cristina.....parabéns Rocco....aprender para ensinar ou ensinar para aprender....sei lá qual a seqüência correta....mas sei de uma coisa....ambas são dádivas Divinas...

    ResponderExcluir
  2. Na vida se aprende e se ensina... que linda esta homenagem... parabéns... abraços apertados

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

BÉSAME

  BÉSAME (ouça https://www.youtube.com/watch?v=TUVM4WdXMLs enquanto faz a leitura)   Durante muitos anos, Paulo foi profissional da música, cantando em restaurantes, bailes e outras festas. Gostava destes trabalhos. Porém, por causa deles, raras vezes teve a oportunidade de dançar, nos moldes românticos ainda viáveis naquele final da década de 1980. Para ele, dançar era um ato de magia, bem mais que o simples compartilhar de mãos, movimentos e expectativas. Esta era sua percepção e acreditava nela apenas se houvesse alguma cumplicidade entre os envolvidos. Entretanto, sempre há os dias em que algo inesperado acontece. Havia um clube, em sua cidade, que programava as chamadas Noites Temáticas. Num sábado sem trabalho, foi à boate. Decoração como convém, luzes contidas, músicas falando dos diversos tipos de amor: boleros e outros ritmos do gênero. Os passeios de sempre pela penumbra do salão e, de repente, Paulo encontrou uma linda mulher, de pele e cabelos morenos, olhar acast

ALGUNS VERSOS SINGELOS

  Imagem:@hertezpuggina ALGUNS VERSOS SINGELOS   Por alguns versos singelos, Sem rimas (elas não são essenciais para mim) Lá se foram algumas horas de minha vida.   Espero que alguém os leia, em algum lugar, Em algum momento, em alguma circunstância, Em algum fim de tarde despretensioso.   Ou... que o tempo os conduza Num vento bem suave, mas preciso, Para que encontrem seu pouso sereno Num coração acolhedor E ali habitem para sempre.

AQUELA PRAÇA

O encontro naquela praça foi inesquecível. O horário não se mostrou importante. Não houve fogos de artifício, nenhuma canção podia ser ouvida no instante em que as vozes e os olhares se cruzaram – curiosos e envolvidos – naquele lugar que se tornou referência e, ao mesmo tempo, um misto de saudade e resignação. Os canteiros floridos ao redor e as calçadas ligeiramente sinuosas confirmavam que o momento era verdadeiro, um momento que seria a demonstração de que a realidade da vida podia apresentar tonalidades de paz, euforia e encanto. Era o início de um tempo que viria a ser surpreendente. Em doses pacíficas e gradativas. Ainda um pouco e seria possível rever as amoreiras florirem, os granitos espelharem o brilho do sol. Seria possível desfrutar as imagens elevadas do mar, das ondas que arrebentariam em praias serenas e da espuma que carregaria consigo eventos imemoriais. Seria possível ouvir as antigas e as novas canções, agora revestidas de arranjos intensos, teclados e sop