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Mostrando postagens de setembro, 2014

LIMONADAS SUÍÇAS - Chico

- Aqui os sucos mais gostosos são o de tamarindo e o de limão. Vou tomar uma limonada suíça. Quer experimentar ? Era apenas a segunda vez que ele se encontrava com sua nova amiga. Mas, consideradas as radicais mudanças em sua vida desde que a conhecera, meses antes, haveria história para uma centena de crônicas. Se ele fosse um cronista. Limonada suíça? Sequer se lembrava de ter ouvido a expressão, menos ainda provado a mistura de limão, água com gás e leite condensado: assim estava registrado no cardápio. Resolveu acompanhá-la no pedido. Enquanto aguardavam os copos, vários temas foram ocupando o espaço entre eles. Profissionais de áreas conexas, procuravam compreender as diferenças entre seus mundos. Identificaram um hobby em comum, fato que ainda mais os aproximava. Além disto, tinham uma afinidade gigantesca. Finalmente o contato com o sabor da limonada suíça. Para ele, a combinação pareceu perfeita e o suco foi tomado com a calma suficiente para que cada gole fosse be

RELENDO ÁGUAS DE MARÇO - Chico

Sou um admirador intransigente da obra de Tom Jobim. Melodias inconfundíveis plenamente sintonizadas com versos marcantes. Os ouvidos e a alma agradecem. Às vezes me atrevo a reler alguns de seus poemas, mesmo correndo os riscos inerentes a esta atitude.   ÁGUAS DE MARÇO ( https://www.youtube.com/watch?v=BhlNHxh3Z5E) Águas de março abrem meu outono: Sou mais por aquilo que virá, mesmo que passe, Do que pelo que passou, mesmo que retorne; Sou seduzido pelo projeto da casa e pelo corpo na cama E me atraem tanto a Candeia como a Peroba do Campo. Águas de março abrem meu outono, Sou mais prelúdios que apoteoses, Mais o movimento que o fim do caminho, Sou menos cativado pelas decorrências do tempo Do que pelas promessas de vida para os corações. Às vezes me sinto um pouco sozinho, Como uma ave no céu, como uma ponte, Um regato, uma fonte, um pedaço de pão, E, sempre disposto a vislumbrar um belo horizonte, Sou um mistério profundo na busc

A RESPEITO DE WORKSHOPS E PRINCESAS - Chico

No último dia daquele workshop, os participantes já se mostravam bem cansados. Caía uma chuva leve. A penumbra no auditório garantia a nitidez das figuras e tabelas projetadas nas apresentações. Entretanto, era um convite irrecusável para os olhos dos presentes se fecharem quase espontaneamente. Todos haviam concordado em usar o inglês em suas falas, segunda língua para a maioria dos participantes. Mas o sotaque carregado daquele palestrante não estava conseguindo atrair muita atenção para os relevantes resultados de sua pesquisa. Numa cadeira lateral, perto de onde eu estava sentado, um dos presentes abriu seu notebook e, de vez em quando, digitava algo. Talvez estivesse esclarecendo dúvidas trazidas por seus orientados. Ou contestasse algum editor de periódico indexado, ainda não satisfeito com as explicações prestadas na quinta ou sexta rodada da revisão de um artigo submetido. De repente, na tela aparece a fotografia de uma linda mulher. O docente ao lado, impressionad

O CENTÉSIMO POST DO BLOG DA MARIA CRISTINA E DO CHICO

- Chico, nós vamos criar um blog!     Naquela manhã, Maria Cristina estava particularmente entusiasmada e seu incentivo soou como uma determinação. Acontece que é maravilhoso ver minhas filhas com este espírito motivado e, por mais que a razão quisesse me contrariar, acabei concordando com a ideia. Em poucos minutos já estavam escolhidos por ela: o formato, a periodicidade para a inserção dos novos ‘posts’, o tom das histórias e dos demais textos, os meios para a divulgação. O nome veio em seguida e este foi objeto de minha proposta: eu trabalhava no projeto de um novo livro de poemas (neste momento quase finalizado) cujo título é “Doses”. Cada poema, composto por doze versos, se constitui numa dose. Em poucos minutos as fotos foram selecionadas para a ilustração e o primeiro poema foi para o ar. Claro que faltava um aspecto fundamental: estabelecer a parcela de contribuição de cada um dos “blogueiros”. Feita esta pergunta, Maria Cristina não hesitou: - Chico, você t

CONVITE PARA UMA DANÇA - Chico

CONVITE PARA UMA DANÇA Olhando pela janela do sobrado em frente à praça, na pequena cidade do interior, a menina sonhava. Havia tanto para sonhar. Na verdade, tudo o que havia era o sonhar com coisas que, na manhã de sua vida, ainda não podia entender nem explicar. Assim começam muitas histórias. E cada uma se desenvolve como as circunstâncias permitem. Ou restringem. Essencialmente romântica, ela se sentia diferente de todas as outras mulheres que conhecia. Ainda mais num período em que o romantismo cede muito espaço para outros “ismos”, que se revezam na preferência dos que vivem sua juventude. Naquela tarde, ela conversava sobre isto com um amigo, cuja presença lhe fazia muito bem e a levava às confissões das esperanças que haviam ficado guardadas em seu coração. Revelou que, quando criança, queria ser uma princesa e morar num castelo bonito, do jeito que havia concebido em suas primeiras ilusões. Não parou por aí. Disse, também, que quando começou a crescer

TRINTA ANOS - Chico

Reginaldo Bessa assim escreveu a respeito de tema tão recorrente (e estava certo): “O tempo não para no porto, não apita na curva, não espera ninguém.” TRINTA ANOS Não tenho mais trinta anos, - há quem os tenha - As coisas ao redor ainda Persistem vibrando mistérios, Mas as luzes incidentais já independem Das inúteis sensações de absoluto E as inquietudes passaram a obedecer Critérios de expectativa controlada. Não tenho mais trinta anos Nem projetos inconfessáveis, Ou, ainda, aspirações cifradas: Os tênues vestígios de amplitude Sugerem a continuidade da devoção; Na harmonia dos campos de cultivo Pétalas, cores, nuances e cursos Disseminam murmúrios de paz. Não tenho mais trinta anos, Apenas posso admirar quem os tenha, Observá-los em suas reticências, Permitindo que me ensinem emoções Na espontaneidade do que se faz singelo, Cuidando dos vocábulos e dos sons, Mas sentindo, no início da tarde, A voz da vid

VENDE-SE UM PIANO - Chico

VENDE-SE UM PIANO Naquela manhã, o espaço reservado para o café em um dos hotéis de Brasília estava quase lotado. Ocupei a única mesa vazia, ao lado daquela em que duas senhoras conversavam. Turistas bem-humoradas, evidenciavam sua origem pelo inconfundível sotaque. Aos poucos a sala foi se esvaziando, permitindo que eu identificasse o assunto que elas abordavam, referindo-se a uma amiga em comum – chamada carinhosamente de Efe. Efe, segundo as duas senhoras, estava tentando vender – sem sucesso - um piano que há muito pertencia à família. Entretanto, o tema central da conversa não era o instrumento propriamente dito e, sim, uma visita que a proprietária havia recebido: um casal parecia interessado em adquiri-lo. O homem estaria se mudando para a cidade e queria o piano para seus estudos. A mulher o acompanhava e nada mais se sabia dela. - Efe mencionou que o homem tocou algumas músicas diferentes. A mulher que o acompanhava apenas ouvia - Disse uma delas. - Vai ver

LINO - Maria Cristina

Gosto de histórias, histórias de bicho e de gente, escritas para adultos ou para as crianças. Apaixonei-me por essa à primeira vista (ou à primeira leitura): "Lino", de André Neves (uma história pra gente pequena que encanta também gente grande), e imaginei como ela seria se tivesse sido redigida para os adultos.   A história do Lino, para as atuais crianças crescidas, na minha concepção, seria mais ou menos assim: LÚCIO Naquela manhã Lúcio acordou triste. Lara, ele não sabia bem o por que,  não mais fazia parte de sua vida. Lara era uma mulher rara, linda, risonha e alegre. Lara gostava de gente. Lara ouvia boas músicas.   Lara trabalhava contando belas histórias num blog patrocinado. Lúcio e Lara sempre estiveram juntos, desde que entraram na faculdade de arquitetura. Mas agora, Lara tinha partido. Lúcio,  telefonou, mandou mensagens (via whatsapp) e deixou recados no facebook, conversou com vários amigos da Lara até que um deles, certa vez, disse as

SUPERANDO MUROS E MEDOS - Chico

Nossos medos são muros obstinados. Precisam ser enfrentados, assim como tudo aquilo que impede nossa liberdade. Superá-los não é apenas uma questão de honra. É uma questão de vida.   SUPERANDO MUROS E MEDOS Não me recordo das angústias, Não me recordo das intenções: Minha memória é seletiva. Permaneço em meu regaço, Às vezes acariciando rostos, Às vezes enxugando lágrimas, Às vezes exorcizando mágoas - quase sempre não as minhas - E substituindo esperas por Assumidas visões de amanhãs. Minha vida tem ares de magia: Vai desenvolvendo seus enredos, Construindo trajetos alternativos Como testemunhas de esboços Transformados em realidade E vivenciados na permanente Busca pela superação de muros e medos.

DOCE SETEMBRO - Chico

DOCE SETEMBRO Muitas frutas são doces, em setembro. Seu néctar invade os sentidos e se deixa absorver por lábios e bocas, depois da busca e do encontro. Muitos dias podem ser doces em setembro. Haverá motivos e estes se estenderão por todos os meses, em todos os hemisférios, em todas as latitudes. Muitas pessoas podem ser doces em setembro. Na verdade, em qualquer época, em quaisquer circunstâncias: aquelas sempre sonhadas, que chegam e se instalam definitivamente em nós. Muitos relacionamentos podem ser doces, quaisquer que forem os períodos de sua permanência ou da trajetória que terá sido possível construir.  Muitos beijos podem ser doces, profundamente doces, e os hálitos se perfumarão com a ternura advinda da proximidade interpenetrada, mesmo que tudo seja transitório ou que persista por muito tempo. Todos os momentos podem ser doces, mesmo enquanto o próximo setembro não vier e que a doçura se conservar apenas na lembrança daqueles que viveram este inesquecível

CENÁRIOS INTERIORANOS - Chico

Não sei se existe algum cenário que me encante mais que a imagem de algumas pequenas cidades interioranas, do Brasil ou de qualquer outra parte do mundo. Suas ruas poucas, arrumadas como recomenda a cultura local, serpenteiam pelos atalhos rumo às montanhas próximas ou se misturam às planícies ao redor. Pequenas cidades que abrigam pessoas simples e prudentes, altivas e nostálgicas, pessoas que aparentam guardar em si mesmas todos os segredos do mundo, decifrados por uma experiência - em maior ou menor intensidade - de sofrimento, escassez e conquista. Pessoas que sublimaram as partidas dos amigos e das amantes, e precisam acalentar a si mesmos na solidão de semanas, meses e anos, nas pequenas cidades com suas casas sequenciais, cúmplices do tempo, casas que se fazem abrigo e lenda. Numa atmosfera de permanência, muitos talvez se envaideçam com sua sabedoria e sua determinação, outros parecem querer perpetuar a felicidade não adjetivável que imaginam acompanhá-los desde a in

CONSTATAÇÃO - Chico

Um aspecto fundamental na vida da gente é a sensibilidade para esclarecer nossas dúvidas propondo as questões mais adequadas diante de diferentes situações. Principalmente quando essas dúvidas envolvem pessoas que já estiveram presentes em nossos caminhos. E depois se afastaram. CONSTATAÇÃO São muitas as pessoas com quem me deparo, pela vida. Poderia ter convivido com elas, em outras épocas, Mas não consigo reconhecê-las e isto me inquieta: Este não reconhecimento pode parecer indiferença. Será fulana, com seu rosto fino e cabelos negros? Será sicrano, com seu sorriso seco e modos contidos? Será beltrana, com seu decote amplo e passos lentos? Será ela, com seu olhar distante e saltos altíssimos? Reflito e, então, percebo não serem apropriadas As diferentes perguntas a respeito de tais pessoas. Constato que o melhor questionamento é outro: E eu? Serei o mesmo, depois de tanto tempo?    

UMA CANÇÃO NA NOITE DANÇANTE - Chico

UMA CANÇÃO NA NOITE DANÇANTE Muitos músicos se iniciaram na profissão tocando na noite (sim, a licença gramatical se faz necessária). A noite é uma escola cheia de revelações que, na grande maioria das vezes, ultrapassa a esfera musical e se estende a outros matizes da natureza humana. Sou testemunha real deste aprendizado específico. Há muitas histórias vivenciadas nas mesas dos restaurantes, nos bares de todas as esquinas, nas boates de tantos encontros e não encontros, que se repetem ou que se tornam impossíveis para os protagonistas e seus respectivos coadjuvantes. Naquela noite, tocávamos num tradicional clube de Rio Claro, como sempre fazíamos no segundo sábado de cada mês. Casais de namorados e eventuais futuros casais de namorados eram os frequentadores dessas noites dançantes. Nas nossas duas ou três últimas vezes por lá, havíamos observado um rapaz que se mostrava vivamente interessado na companhia de uma determinada moça, a qual não parecia ter percebido os seus