A CANÇÃO QUE COMEÇOU A MUDAR MINHA VIDA
Muitos sabem que a música é uma das minhas grandes paixões
e que o piano é meu instrumento favorito. Estudo desde os seis anos de idade e, aos treze, recebi e aceitei o primeiro convite para participar de um grupo
musical.
Quando foi preciso avaliar as alternativas para a
formação profissional, a música permaneceu em pauta, competindo com a
engenharia. Decisão complicada, ainda mais se forem consideradas as
circunstâncias que marcaram o final dos anos 1960. Por diferentes razões, em
diversos momentos, parecia evidente que a música iria prevalecer.
Entretanto, há sempre alguns aspectos que se tornam
preponderantes para fundamentar a inevitável escolha. Houve uma canção que desempenhou este papel (se você quiser ouvi-la, acesse o link https://www.youtube.com/watch?v=7w0Y-JTTp0s ).
À época, as circunstâncias políticas alimentavam a
intensa efervescência artística no país. Dois compositores já reconhecidos, Mario Albanese e Ciro Pereira, trouxeram ao público a proposta de um ritmo em
cinco tempos, inspirado em obras jazzísticas norte-americanas. Deram-lhe o nome
de “Jequibau”
Ouvir o ritmo e a canção pela primeira vez foi algo
inesquecível. Em seguida fui ao piano: a tentativa era reproduzir o que acabara
de ouvir. Uma nova primeira vez acontece: a consciência da minha limitação.
Horas depois, ainda não havia conseguido repetir o tema e a harmonia que o
acompanhava.
No dia seguinte, a mesma coisa. E no outro também.
A corrida pela compra da partitura não foi bem sucedida: publicações como aquela não chegavam às cidades do interior. Assim, não pude encontrar meios para executar a
música que, sem que ainda me desse conta, havia começado a mudar minha vida.
Aquela impossibilidade me mostrou com muita
clareza a existência de limites insuperáveis, que podem permanecer por
intervalos de tempo mais curtos ou bem mais longos. Depois desse episódio, aos
poucos minha atenção foi se concentrando nos requisitos da engenharia. Sim,
houve outros fatos que confirmariam tal decisão. Mas Jequibau
nunca mais saiu de minha memória.
Anos depois, concluí o curso em São Carlos.
Aceitei o convite para a carreira acadêmica, comecei a atuar como
docente-pesquisador. Pelas minhas contas, tive quase três mil alunos, prestei
diversos concursos, tenho ajudado a formar mestres e doutores. Conheci instituições
e pessoas essenciais em decorrência do exercício profissional. Muitos sabem que
me sinto plenamente realizado, tendo apenas motivos de gratidão por tudo isto.
Às vezes, como hoje, relembro esta história.
Não conheço com detalhes a Teoria do Caos, cuja
ideia central é que uma minúscula
mudança no início de um evento qualquer pode trazer consequências desconhecidas no futuro. Todavia, acredito que, se não tivesse ouvido Jequibau naquela hora, hoje muito provavelmente eu seria um músico..
Mas jamais vou saber se seria tão feliz como sou, sendo engenheiro e professor.
Comentários
Postar um comentário