Quando
nos reunimos para uma celebração, papai sempre me incentiva para aumentar minha
participação em nosso blog.
Partindo
para uma viagem de trabalho, me lembrei das palavras do Chico. Pensei comigo que, apesar da
linda paisagem carioca, eventos profissionais não costumam ser
inspiradores (sim, confesso que sempre preciso de algum estímulo para
escrever).
Passei
dois dias olhando pro mundo procurando motivos, razões e ideias para
continuar contando minhas histórias.
Cogitei falar do mar, da lua (que essa
semana resolveu caprichar), previ uma boa maneira de desejar bom dia ou boa
noite às pessoas que considero queridas. Olhei para os que estavam ao meu lado.
Permaneci somente nas tentativas.
Confesso que experimentei a frustração
ao entrar no avião, de volta pra casa, sem nada em mente. Afinal são tantos (ou
todos) os pretextos para as narrativas.
Distraí minha expectativa. Dizem que a
vida tem dessas coisas.
O avião se mostrava cheio à medida que eu
seguia pelo corredor. Um time de futebol carioca estava a bordo. Avistei um
lugar vazio, o meu, na última fileira, na janela. Acomodei-me e a aeronave
decolou sem atrasos e sem contratempos dessa vez.
Quase não tirei os olhos da paisagem:
tudo lá fora parecia ainda mais belo quando admirado de cima.
Só me
desconcentrei de minha silenciosa contemplação quando ouvi um dos comissários
falando com o homem que estava ao meu lado (devia ter uns trinta anos, estava
formalmente vestido e usava óculos escuros). Perguntou se se sentia bem e se
precisava de alguma coisa.
Reparei,
com algum atraso, que aquele homem chorava demasiadamente.
Achei
um tanto estranha a resposta do passageiro ao funcionário da companhia aérea.
Com a voz embargada disse que estava bem, mas que não queria voltar pra
casa, preferia ter permanecido onde estava. O profissional, educadamente, se
retirou e voltou a seus afazeres.
Continuei
olhando para o cenário lá fora (não queria causar constrangimentos) e ainda ao
som dos soluços me pus a pensar nas possibilidades infinitas daquela profunda e
dolorida tristeza.
Muito
mais rápido que eu podia imaginar, senti meus pés no chão.
O
homem, enquanto esperava a abertura das portas, tirou os óculos,
enxugou os olhos, ajeitou a roupa e o cabelo, pegou uma pequena bolsa no
maleiro, colocou uma bala na boca (como se tentasse desamargar seu momento) e
seguiu como se o choro não lhe pertencesse.
Ele
estava na minha frente na fila esperando por um táxi, aparentemente recuperado. Ainda que tenha imaginado centenas de motivos para aquela aparente aflição, jamais
saberei as reais razões daquele que talvez eu não volte a ver.
Nesse instante,
me veio uma música à cabeça, na voz do Chico (esse é o Buarque). (https://www.com/watch?v=WCnArLi3uCk)
Entrei no carro e agradeci
pelas histórias (que estão aí pra ser contadas) e, principalmente, por eu ter
tido, sempre, bons propósitos pra ir mas, também, para voltar.
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