POR TODOS NÓS
Roberto
Bellucci, pessoa de caráter ilibado, é meu amigo de longa data. Violonista, cantor e compositor reconhecido por este Brasil
afora por sua criatividade e sua competência, na última sexta-feira me fez um
presente surpresa, que chegou na forma de mensagem.
Alguém
poderia perguntar: qual seria a surpresa? Amigos, em particular
aqueles de longa data, costumam estar sempre em contato, narrar as novidades,
manter as conversas em dia.
Não foi
assim neste caso.
Há trinta
e cinco anos, em Rio Claro, fazíamos nossa última apresentação juntos: "Vida:
sinal aberto?"
Lembrei-me de um dos versos que integravam a canção, composta pelo Roberto, que cantamos naquela noite: "Toda gaiola de ouro guarda uma
agonia".
Apesar do
nome não usual do grupo, nossa música era bem contextualizada: eram outros
tempos e era preciso não silenciar.
Todavia,
por razões que não sabemos explicar, de repente Roberto e eu ficamos em
silêncio. Segui minha vida em São Carlos e ele, depois de uma trajetória mais
movimentada, se enraizou na calorosa Belém do Pará.
Profissionais
de áreas distintas, continuamos a fazer música, cada um a seu modo e com a
intensidade que a vida permitiu. Depois de tanto tempo, as alternativas da
informática nos colocaram novamente em contato.
Em
resumo, o texto da mensagem dizia:
"Chico:
gostaria muito de ouvir suas músicas. As antigas e as novas. Para
instigá-lo, envio uma das minhas...Beto"
No
arquivo anexado, uma linda canção. Como diz o título, parece um cântico de liberdade lançado pelos ares, Por todos
nós.
Como se
expressaria outro velho amigo, a doce melodia do Roberto envolveu todo o
seu poema e a sexta-feira se encheu de luz e som, como se o dia fosse novinho em folha.
Viajei
"Pelas manhãs de sol, pelos luares sãos, pelo suor do chão, por toda
lágrima em vão".
Mergulhei
nos acordes e me emocionei quando os versos recomendavam: "... e escolher a vida pra dizer sim ou não, por todos
nós e mais...pelos que vêm e vão."
Mais que instigado, comparei a essência dos versos que o
Roberto escreveu ontem e hoje. Pensei: que ótimo! Neste dias ainda podemos
fazer nossas escolhas sem censura. Não senti saudade daquela época e desejei
profundamente que possamos prosseguir assim por todo o tempo do mundo.
Enviei uma das minhas canções para o Roberto ouvir. Creio que
ele também poderá se emocionar. Apenas lamentei um aspecto: os recursos deste blog
ainda não possibilitam a inserção de arquivos no formato em que nossas músicas estão gravadas.
Seria
um modo mais completo de dividir as emoções. Mas as alternativas da
informática certamente tornarão isto possível. Em bem menos do que trinta e
cinco anos.
Chico. Sabe bem que sempre fui cauteloso, num período muito grande da minha vida, em entrar em contato com você. Mas, a minha memória musical não me permitiu ficar em silêncio. Te procurei para saber sobre meu mentor, amigo e um dos mais brilhantes compositores que eu conheci que, se seguisse somente na música, seria, hoje, sem sombra de dúvidas, comparado aos excelentes e competentes compositores que este país produziu e produz. Mas, o caminho foi a engenharia - que ganhou inspiração e melodia - e, com certeza passou a ter um olhar diferente do pragmatismo e da relação cartesiana desta ciência. E a música de Chico Lahr reside com solidez em nossas memórias (digo nossas, pois os amigos, do tempo de Badalasom, também se lembram com o mesmo carinho a ponto de cantar como se fosse hoje. Assim o foi quando eu Lúcia Helena rememoramos algumas músicas da Suíte Rio Claro em sua passagem por Belém. Ou há dias, quando estive com o Zaine em sua casa, cantando, relembrando e compondo). Chico, esta música que te enviei não tem a profundidade musical, a sensibilidade poética e a competência harmônica que você sempre teve. Mas, acredite, tem o respeito, a admiração e a influência do maestro Chico Lahr. Parabéns pelo Blog. Seguirei sempre. Vamos conversando..........e trocando músicas. Grande abraço.
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