No último dia daquele workshop, os participantes já se
mostravam bem cansados.
Caía uma chuva leve. A penumbra no auditório garantia a nitidez das figuras e tabelas projetadas nas apresentações. Entretanto, era um convite irrecusável para os
olhos dos presentes se fecharem quase espontaneamente.
Todos haviam concordado em usar o inglês em suas
falas, segunda língua para a maioria dos participantes. Mas o sotaque carregado
daquele palestrante não estava conseguindo atrair muita atenção para os relevantes
resultados de sua pesquisa.
Numa cadeira lateral, perto de onde
eu estava sentado, um dos presentes abriu seu notebook e, de vez em quando, digitava algo. Talvez estivesse esclarecendo dúvidas trazidas por seus orientados.
Ou contestasse algum editor de periódico indexado, ainda não satisfeito com as
explicações prestadas na quinta ou sexta rodada da revisão de um artigo
submetido.
De repente, na tela aparece a fotografia de uma
linda mulher. O docente ao lado, impressionado com a imagem, fez um breve comentário. Com uma pronúncia inglesa irrepreensível, disse que a mulher parecia uma princesa.
O outro replicou imediatamente, em voz bem audível,
que aquela mulher, para ele, era
realmente uma princesa.
A atenção dos que estavam nas proximidades se
voltou para a fotografia, mantida na tela do notebook. Também olhei. Tratava-se
de uma mulher morena, de olhos verdes belíssimos. Sem querer me alongar na
descrição, imaginei que pudesse ser uma brasileira. Mas não verbalizei esta
suspeita.
O senhor com o notebook prosseguiu em sua ponderação.
Percebendo os muitos olhares convergentes, indagou ao docente ao lado se – pelo menos – não conhecia uma mulher a quem pudesse chamar de princesa.
Não recebeu resposta e continuou contemplando a foto.
Terminada aquela palestra, o evento se encaminhou
para a assembleia final. No coquetel de encerramento, alguns ainda faziam alusão ao citado episódio.
Circunstâncias como essa sempre me levam à
reflexão.
Ainda venho considerando comigo mesmo se, nos dias
de hoje, haveria um número expressivo de mulheres que gostariam de ser tratadas
como princesas.
E mais: se haveria um número suficiente de homens
atentos a essa eventual expectativa feminina.
Até
agora também não encontrei respostas.
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