Era uma daquelas longas reuniões às quais, como docentes universitários, temos que comparecer para analisar dezenas de processos, emitir pareceres, discuti-los e encaminhar as propostas para as chamadas instâncias superiores.
Eram mais de dez pessoas na sala e, havia quase duas horas,
estávamos cumprindo nossa tarefa. Perto das onze da manhã, o coordenador propôs
um intervalo para o cafezinho.
Nestes momentos, os comentários costumam se multiplicar:
opiniões a respeito da situação da Universidade, retrospectos e perspectivas,
as últimas informações sobre os reajustes salariais em fase de definição. Coisas assim.
Como a atmosfera não era muito otimista, um dos docentes fez
uma pergunta, na tentativa de acender o ânimo dos presentes:
- E então, gente, o que faria vocês se sentirem felizes?
Bem
depressa respostas ecoaram e todas elas se referiam unicamente às atividades
acadêmicas. Algo como:
-
A liberação dos recursos para a continuidade daquele maravilhoso programa de
pesquisa;
-
A aprovação da bolsa para aquela competente e dedicada pós-graduanda prosseguir suas
atividades;
-
A aceitação do artigo para publicação na revista A1, depois de quase dois anos
de discussão com os editores;
-
A outorga dos recursos para a realização do importante congresso internacional,
com a vinda de várias autoridades na área.
Quase
todos falávamos ao mesmo tempo.
Alguém propôs uma pergunta um pouco diferente:
-
O que faz vocês felizes?
Silêncio
quase imediato.
Creio
que temos mais facilidade nas questões elaboradas com os verbos no futuro do
pretérito, pensei comigo.
No
fundo da sala, um dos docentes mais experientes do grupo se manifesta, falando
em voz serena e determinada.
-
O que me faz feliz é saber que alguém sempre estará a meu lado!
Agora
sim: silêncio imediato. Claramente, ele não fazia referência às atividades acadêmicas.
Impactados
com o teor da resposta, os demais que estavam na sala apenas se entreolharam.
Um a um voltamos para nossos lugares e, aos poucos, a reunião foi retomada.
Os
processos remanescentes pareciam ter perdido sua relevância, pois não houve
qualquer discussão a respeito deles. Calados, certamente estávamos fazendo uma
retrospectiva de nossas vidas.
Não
cabe aqui ficar imaginando as conclusões a que cada um chegou. Mas... não sei
quantos poderiam responder de modo análogo àquele experimentado professor.
Chico, gostei do texto. Parabéns. Realmente a felicidade está presente nas coisas simples que, de tão próximas, muitas vezes sequer são vistas ou notadas. Abraços.
ResponderExcluir... Seja no monte mais alto, seja no mar mais profundo...
ResponderExcluirBom demais!
Grande abraço!!!