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Mostrando postagens de julho, 2014

MINHA PRESSA - Maria Cristina

Mamãe sempre me pediu paciência;  p apai ensinou que na vida não vale afobar; m inha irmã (sem dizer) me mostra como é, o s alunos pedem calma.  E até o filho quer que eu espere. SOBRE MINHA BOA PRESSA Infinitas vezes já ouvi: "sossegue, o mundo não vai acabar amanhã!" E quantas outras, repeti: "devagar, o mundo não acaba amanhã." Mas... Minhas pernas pedem por rapidez,  Minhas rimas são velozes, Minha fome é aflita,  Meus amores são impacientes, Meus desejos correm em minha frente, Os sonhos brotam como uma fonte que jorra, As ideias passam dias e noites fugindo, Ariscas, em minha mente inquieta. Os sinos têm pressa, As palavras, as histórias, os projetos - não querem esperar. Que Caetano me perdoe, Tudo é pra já (não dá pra esperar em silêncio). A vida é urgente!  Apressem-se. Porque, e se o mundo decide, enfim, Acabar amanhã de manhã?

O CASARÃO DE ESQUINA - Chico

Há lembranças insistentes. Casarões de esquina, que acolhiam escolas em épocas tão diversas, abrigavam bem mais que pessoas: eram depositários de suas histórias e suas expectativas. Apagados do mapa urbano, levaram consigo pedaços de vida. Pode fazer muito tempo, mas a lguns desses pedaços continuam sendo procurados até hoje.   O CASARÃO DE ESQUINA Não existe mais o casarão de esquina Que abrigava as salas de aula Com janelas voltadas para a rua. Não existem mais as pessoas Que se entreolhavam fraternas Nos pátios ensolarados do casarão de esquina. O bairro que abrigava o casarão de esquina - e as pessoas em seus pátios ensolarados - De tão mudado, parece ter deixado de existir. O que ainda permanece não mais se explica: A cidade e as pessoas transitam outros vínculos: Tudo é questão de tempo, de olhar, de não entender.

MOMENTOS - Chico

Na vida, há momentos cuja descrição requer poucas palavras. MOMENTOS O cheiro do corpo umedece os lábios, A epiderme se aquece e umedece os olhos, Cortado o silêncio, os ouvidos se aguçam E umedecem a epiderme e a entrega. As mãos e os lábios se entrelaçam, A bênção da seiva nutre os aromas e os corpos.

CONSENTIMENTO - Chico

Nossas descobertas são mais vigorosas com o consentimento e a concessão de quem é mais sábio que nós. Ao desvendar mistérios e segredos, construiremos nossos trajetos. Teremos que nos reinventar: resignando, abolindo, reaprendendo. Mas...haverá outro modo para se consumar o que nos deleita ? CONSENTIMENTO Conceda-me o tempo e suas variantes, Conceda-me a vida e seus sintomas: Tempo e vida me ensinarão os mistérios Do existir, do realizar, do perdurar. Conceda-me a espera e suas renúncias, Conceda-me a promessa e seus intentos: Espera e promessa me ensinarão os segredos Do resignar, do abolir, do reaprender. Conceda-me a volúpia e seus ímpetos, Conceda-me o ensejo e seus silêncios: Volúpia e ensejo me ensinarão os trajetos Do reinventar, do consumar, do deleitar.

UMA NOVA PRIMAVERA - Chico

Quando as pétalas de todas as flores despencam, permanece a impressão de uma invertida primavera. Com as pétalas caídas, os sorrisos são menos luminosos e sintomas de angústia podem acompanhar as sombrias horas da tarde. Alguma perplexidade poderá estar ao lado e as emoções serão proclamadas apenas como sussurros aos ventos crepusculares. Negligenciados, os sentimentos vão deslizar pelos dedos, esvaziando as mãos. E os lábios se calarão. O cenário mais comum mistura os últimos raios de luz com a inquietude da penumbra, o que trará consigo feições de pressa e intransigência. Alguém abreviará propósitos e condensará declarações; mensagens serão postergadas e, de certo modo, um tanto de vida será adiado. O que é fugaz se apresentará com ares de definitivo, até que se levante uma nova primavera e as flores renovem suas pétalas, acionando de novo os sintomas de sua vitalidade. Assim, será possível dizer adeus à angústia e aos crepúsculos sumários. Será, outra vez, o temp

IDAS E VINDAS - Chico

Idas e vindas são fatos frequentes. E também fundamentais para aprofundarmos a compreensão de nossas expectativas e estendermos a amplitude de nosso olhar. Assim, nossas próximas escolhas poderão ser mais bem sucedidas. Mas há momentos - e eles sempre são precedidos por sinais inequívocos - em que nossas projeções vão convergir para o desejo de construir uma história mais densa. Talvez definitiva. Em especial se as idas e vindas tiverem sido muitas. E dolorosas. É bom lembrar: história não se faz sem permanência. IDAS E VINDAS Vestígios do que existiu, Lançados pelos caminhos, São os destinos simbólicos De conflitos e suas mágoas, De pesares e suas lágrimas, Daquilo que veio e logo se foi. Mas a vida é mais que destino: É espaço irrestrito para acolher Os novos prelúdios e alamedas, Os apegos com nomes reescritos, As histórias com enredos mais densos E aquilo que vem para permanecer.

FELICIDADE - Chico

A vida sempre deixa transbordar fragmentos de sua generosidade. Ao sermos alcançados por eles, às vezes a surpresa é tamanha que provoca dúvidas; às vezes nos encontramos inibidos, incrédulos e a reação é contrária aos efeitos instigantes que deveriam produzir. Quem consegue compreender a natureza humana? Creio que nos cabe permitir que a sedução dessas dádivas encontre solo fértil em nosso cotidiano. E seja profundamente transformadora. Ah...é preciso coragem!  Não duvido. Doses mais intensas dessa generosidade podem trazer o risco de nos pensarmos infinitos (sempre os riscos...) Todavia, que mal haverá em cultivar fantasias? Por um instante, uma hora, um dia deixar a plena emoção materializar em nós os seus intentos e resultados? Pode ser que a gente se habitue e queira perenizar este encanto. Claro, precisamos estar preparados para a possível transitoriedade destas experiências. Aliás, preparados para tudo, em todo o tempo. Principalmente se a gener

DIÁRIO DE BORDO - Maria Cristina

Por que será que nossa memória seleciona lembranças? A minha fez questão de apagar alguns acontecimentos, mas lembra bem das viagens (até das pequenas e simples) que fiz desde a tenra infância.  Vovó morava numa cidade próxima à minha e era (ela e os outros parentes rio-clarenses) sempre visitada por nós. Recordo o desconforto físico que as viagens me causavam (e causam até hoje). Brotas e Itirapina eram  duas palavras que, por conta das viagens, eu pronunciei antes mesmo de saber formar frases. Lembro-me dos passeios em Poços de Caldas (das voltas na praça de charrete), das compras em Limeira, dos almoços na Cachoeira de Emas, das aventuras em São Paulo perto de uma banca de jornais (gostava tanto daquele café da manhã do hotel), da minha ida, responsável, à cidade da criança em São Bernardo, das férias quentes no Guarujá. Isso tudo se passou há muito tempo... Da adolescência aborrecida, relembro o encanto de campos floridos da primavera alemã, das experiências inc

SAUDOSISMO - Chico

Alguém me perguntou uma vez: saudade é um sentimento que se refere a algo que perdemos ou a alguma coisa que retivemos em nossa memória? Até agora não encontrei a resposta: há tantos mistérios envolvendo o que é subjetivo. Transitórias ou definitivas, todos trazemos conosco saudades. Em determinados momentos, até permitimos que nos façam companhia: a natureza humana é engenhosa.  Jamais conseguiremos delegar tal sentimento. Seu gosto cabe apenas em nosso paladar. Quanto a você: quais são suas saudades ? SAUDOSISMO   Castiçais e prata, pele macia, mãos E toques, palavras, calmas palavras, Promessas e danças. Longo vestido, varandas e luar, Mãos e vozes calmas, promessas, Palavras e danças. Perfumes e lábios, brisa noturna, Promessas, encanto, paz e silêncio, Mãos macias. Versos e vozes, danças e lábios, Luar, brisa calma, promessas, Desejo e encanto. Perfume, castiçais, pele macia, Paz e promessas, cetim e lençóis, Lábios,

INTENÇÕES NÃO PARTILHADAS - Chico

Partilhar momentos com pessoas essenciais concede ao dia a liberdade de selecionar voos e pousos; trajetos e destinos; intenções e poemas. Ausências afrontam, restringem, aprisionam. Não ter escolhas é reprimir expectativas,  adiar canções  e produzir lágrimas. INTENÇÕES (NÃO) PARTILHADAS Canções ao amanhecer, ao longo do dia, Durante a noite, emanadas do coração; Assobios despreocupados, até recorrentes, A qualquer instante, sem nada preconcebido; Acordes ao violão, composições ao piano, Espontaneidade explícita, não calculada; Sussurros alinhavando suas intenções Nos versos sobrepostos às melodias Que deslizam dos instrumentos aliados. Mas, às vezes, a vida não concede a mútua presença: Permanece no ar o silêncio da ternura não convivida E lágrimas sinceras escoltam as alegrias cerceadas.

FINAL DE SEMANA - Chico

Não sei se o seu fim de semana foi dedicado ao descanso ou às viagens. Bom se tiver sido ao descanso; excelente se tiver sido às viagens.  Se foi descanso, o final de semana talvez tenha sido até longo. Se viagens...foi muito curto, quase imperceptível. As viagens podem cansar um pouco mas esta sensação passa logo. A sensação de descanso nem tanto. Os resultados do descanso são imediatos. Os resultados das viagens são permanentes. Descanso beneficia o corpo. Viagens também fazem bem ao corpo, entretanto (e principalmente) são celebrações para os olhos, o coração e a mente. Descanso nem sempre amplia nossas perspectivas. Viagens expandem muito nossos horizontes. Descanso raramente nos leva a conhecer pessoas. Viagens, tantas vezes, são sementes de novos relacionamentos. O que se descansa não fica na memória por muito tempo. O que se vivencia nas viagens permanece na lembrança para sempre. Muitas de minhas melhores recordações se refe

AFINIDADE - Chico

Ontem deixamos dois convites aos nossos leitores. O primeiro era propor um nome ao sentimento descrito por um texto. Houve dificuldades técnicas para alguns que tentaram inserir o comentário. Como conheciam meu endereço eletrônico, sugeriram por este meio. Alguns nomes propostos: fascínio, identidade, amizade, amor, compreensão, entendimento. Mas...o que me motivou a escrever o texto foi AFINIDADE . Acredito que seja tal sentimento que permite estes registros: Conversar sem que palavras tenham que ser expressas. Expressar-se com palavras que não precisam ser esclarecidas. Esclarecer-se das intenções sem que perguntas sejam necessárias. Necessitar da presença (real ou virtual) independentemente do tempo decorrido desde o último encontro. Encontrar-se em qualquer tempo e lugar com o mesmo sabor da primeira vez. Saborear primeiras vezes a cada vez. E, a cada vez, desejar mil próximas vezes. O segundo convite você já atendeu e voltou a visitar o blog. Bom sinal

SENTIMENTOS E SEUS NOMES - Chico

Tenho pensado muito no que significa atribuir nomes aos sentimentos. Mas...sentimentos devem ter nomes ? Discutível. Seria razoável querer definir algo tão subjetivo, pessoal e intransferível? Muitos tentam e estão convencidos de que conseguiram a almejada síntese. Outros preferem simplesmente que os sentimentos tomem conta de seus corações e mentes. Assim, se permitem experimentá-los e não se preocupam com palavras que os determinam. Afinal, que palavra poderia explicar a seguinte vivência? Conversar sem que palavras tenham que ser expressas. Expressar-se com palavras que não precisam ser esclarecidas. Esclarecer-se das intenções sem que perguntas sejam necessárias. Necessitar da presença (real ou virtual) independentemente do tempo decorrido desde o último encontro. Encontrar-se em qualquer tempo e lugar com o mesmo sabor da primeira vez. Saborear primeiras vezes a cada vez. E, a cada vez, desejar mil próximas vezes.

ALGUMAS HISTÓRIAS - Chico

O tempo é invencível. Cabe a nós extrair dele os sabores mais intensos.  E os mais suaves. Cabe deixar que ele revele suas histórias e as transforme em nossas histórias. Pode ser que, assim, envelheçamos mais felizes. E mais lentamente. ALGUMAS HISTÓRIAS Estou reaprendendo a contar histórias, Deixando-me levar pelos ventos dos versos Que relatam meus desejos de compreensão; Cada vez menos sou dominado por anseios E estes vão se dissipando em minha espera, Aprendida espera de anos e décadas Por onde tenho identificado surpresas E desacostumadas sementes de paixão. Convivo com algumas vantagens: Posso imaginar delicadas realidades E, a meu modo, construir cenários Abusando do inacessível e da paz; Depois, retomo os caminhos concretos E me conservo articulando alegrias. Tenho desaprendido diferentes medos Contornando angústias e pressas; Tenho experimentado muito carinho Mantendo acesas chamas e luzes; Tenho encontrado novos

AGENDA - Chico

Cada dia tem sua agenda, co nstruída por nós mesmos ou não. A ela nos submetemos. Porém, o que efetivamente almejamos é abolir as imposições e exercitar a plena posse de nosso tempo (árdua tarefa, inglória muitas vezes). Quando conseguimos, a sensação é de conquista, mesmo que nem sempre duradoura. Não importa. Pequenas conquistas diárias podem ser mais cativantes: é primordial nos concedermos estes prazeres. Ao lado dessas pequenas conquistas também é possível que fiquem marcas e, até, algumas cicatrizes. Seja por aquilo que foi agendado ou que chegou sem ser planejado; pelo que foi longamente esperado ou por aquelas surpresas que acabam tomando conta de nosso espaço. Sim, haverá marcas definitivas. Que sejam marcas deliciosas, vestígios cintilantes, sinais de ternura. Indícios de renascimento e de celebração. Se forem inevitáveis as cicatrizes, que elas sejam poucas. E pouco perceptíveis.

ACERTOS E EQUÍVOCOS - Chico

Cada um de nós tem diante de si pelo menos dois caminhos. É usual alguém precisar de certo tempo para  discernir essas possibilidades. Às vezes, é necessária toda uma vida. Em muitas situações, qualquer hesitação provoca críticas e julgamentos imediatos. As consequências deste indefensável rigor podem levar a múltiplas impressões de culpa e angústia. Entretanto, sempre haverá alternativas: nelas é exercitado o acolhimento e praticada a tolerância. São felizes aqueles que a vida permite experimentar este caminho.  ACERTOS E EQUÍVOCOS No coletivo de acertos e equívocos A humanidade em nós traça seu curso; Mas nem sempre se avaliam com clareza As variações consistentes das circunstâncias. Assim, possibilidades permanecem tolhidas Quando podiam transbordar seus limites E as escolhas ficam circunscritas apenas Ao que já teria sido dito e experimentado. É comum se focalizarem meramente os equívocos, Seus danos, suas implicações, suas decorrências. Admi

MANHÃ DE INVERNO - Chico

Há cidades em que o inverno traz manhãs bem marcadas  pelas  características da estação. Um dia destes, em algum lugar, foi assim. Nestas horas, há muitos bancos vazios nas praças, nos parques, nos arredores. Na vida, também há dias em que nossos bancos parecem vazios. Mas será passageiro. Como as estações. MANHÃ DE INVERNO Amanhecia na cidade de tantas histórias, A Praça da Igreja Matriz, ampla e solene, Estendia seus braços a muitos, delineando O convite para mais uma jornada cotidiana. Era inverno. A neblina acompanhava Um vento aberto emoldurando o cenário. Havia bancos vazios na praça e nos arredores, Eram visíveis aos que conservavam ausências; Não havia sido assim no último verão: Contudo, nem sempre as cenas se repetem. Isto não se explica, apenas se constata. E a vida se cumpre, diante de nossos olhos.

TEMPO - Maria Cristina

El a cresceu com mais medo do tempo que do bicho papão. Desde a infância achava que o monstro dos anos passava mais rápido do que imaginava poder acompanhar. A equação tempo x sonho nunca fechou... sobravam sonhos e faltava tempo para aquela inquietude que a acompanhava desde as fraldas. Certa vez, cochicharam em seu ouvido: "o tempo fabrica monstros". A partir de então seu maior temor passou a ser o de ser mastigada e engolida por ele. Num belo dia de verão (ela adora os dias claros e quentes), numa dessas habituais olhadelas no espelho, percebeu que já não era tão jovem. Viu-se com quilinhos a mais, cabelos a menos, sem falar nos fios brancos que não tardaram a aparecer (além da enorme mala de expectativas que sempre foi perita em cultivar e carregar). Nas pernas percebeu alguns vasos traçando caminhos, reparou nas rugas da testa. Algumas das chamadas linhas de expressão já marcavam presença. Sentia dores nas costas mesmo achando que elas tardariam a aparecer. Pre

IMPOTÊNCIA - Chico

Nossos olhos: as janelas pelas quais enxergamos o mundo que nos envolve, seus cômodos, seus móveis, seus caminhos. Debruçados sobre elas, desejamos ardentemente expurgar angústias e tormentos; imaginar apegos e prazeres possíveis; depurar intenções e construir a verdade que vai nos conduzir pela vida. Alguns realizam esse desejo. Outros não. IMPOTÊNCIA  Na  janela, às quatro da tarde, A mulher debruçada como se ainda Quisesse outro apego, sem partir. Na sala, às nove da noite, A mulher atormentada como se ainda Sonhasse outro tédio, sem fugir. Na cama, às duas da madrugada, A mulher sufocada como se ainda Cismasse outro prazer, sem fingir. Na rua, às dez da manhã, A mulher angustiada como se ainda Pudesse outra vida, sem mentir.