Sexta-feira, 19
horas. Chuva forte, compromissos cumpridos, gratidão aos
anfitriões claramente registrada. De volta ao hotel, confirmou a reserva e o
horário para que as flores fossem entregues no restaurante. Rosas amarelas. O
presente e o cartão já estavam preparados. Um prolongado e relaxante banho,
enquanto aguardava que ela entrasse em contato.
Desceu ao saguão, sentou-se outra vez diante do monitor. Na caixa-postal havia uma mensagem dela, enviada às 22 horas e 18 minutos do dia anterior. Dizia que, realmente, as atividades haviam sido muito intensas nos últimos dias. Ainda assim, não havia conseguido completar seu trabalho. Por isso, para ela era muito doloroso aceitar que estavam tão próximos, mas não poderiam se encontrar. Releu o texto. Mais uma vez. Teve que concordar: estava sendo muito doloroso. Seus olhos umedeceram: se houvesse visto a mensagem na noite anterior, teria alugado um automóvel no meio da tarde e, deste modo, atravessaria os quilômetros que os separavam. Na cidade dela, teriam algum tempo juntos, pelo menos. E poderia estar de volta na manhã de sábado. Estático e resignado, demorou um pouco a reconciliar o raciocínio. A vida tem mesmo destas coisas. Muitos minutos depois, notou que, lá fora, a chuva ia se acalmando. Já passava bastante das 20 horas.
Resolveu sair e caminhou até o restaurante, não muito distante do hotel. Os ares de uma eventual paixão foram se dissipando, lentamente. Não havia mais pressa, nem ansiedade, nem euforia. Poucas pessoas estavam nas ruas do centro da cidade àquela hora, quase ninguém. Em alguns bares da região, a noite começava a se agitar. Para ele, pouco ou quase nada mais iria acontecer. Não quis arriscar chamá-la pelo telefone celular. Nenhuma razão objetiva para isto. Entretanto, sabia que a vida não é feita somente de razões objetivas. E assim o fez, ou melhor, não o fez.
As cores daquele dia não foram vivas e a suavidade das palavras deu lugar ao silêncio. Talvez houvesse motivos. Para ele, restou a mesa sem companhia. Recebeu as flores que enviara, olhou o presente e o cartão. Pediu que trouxessem champanhe. Apenas champanhe. Tomou três taças, depois saiu e deixou as flores enfeitando o lugar. Ao lado o cartão. Chegou ao hotel e não quis mais pensar. Somente procurou descansar. Até agora não sabe como conseguiu.
No dia seguinte, estaria voltando, voo marcado para o início da tarde.
Sábado: Acordou no horário de sempre, um pouco atordoado. Aos
poucos, uma impensável mudança de humor o levou ao convencimento de que, nesta
fase de sua vida, ainda haveria outras chegadas e partidas. Desejou com
sinceridade que não experimentasse muitas ausências. Percebendo alguns sorrisos
de volta aos lábios, pressentiu que iria conservar a delicada lembrança da
luminosa mulher, sua amiga circunstancialmente distante, até que fosse possível
o próximo encontro. Tentou imaginar quando aconteceria.
Conformou-se: o convívio com o tempo e suas sólidas limitações se constituiria num aprendizado repleto de minúcias. Talvez esta viagem tivesse sido apenas o começo.
No aeroporto, certificou-se de que, ao desembarcar, uma nova partida o aguardava. Mais algumas horas de voo e estaria ao lado de uma das grandes paixões de sua vida. Ela o esperava.
Talvez ficassem juntos alguns dias.
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