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DIÁRIO DE BORDO - Maria Cristina




Por que será que nossa memória seleciona lembranças? A minha fez questão de apagar alguns acontecimentos, mas lembra bem das viagens (até das pequenas e simples) que fiz desde a tenra infância. Vovó morava numa cidade próxima à minha e era (ela e os outros parentes rio-clarenses) sempre visitada por nós.

Recordo o desconforto físico que as viagens me causavam (e causam até hoje). Brotas e Itirapina eram duas palavras que, por conta das viagens, eu pronunciei antes mesmo de saber formar frases.

Lembro-me dos passeios em Poços de Caldas (das voltas na praça de charrete), das compras em Limeira, dos almoços na Cachoeira de Emas, das aventuras em São Paulo perto de uma banca de jornais (gostava tanto daquele café da manhã do hotel), da minha ida, responsável, à cidade da criança em São Bernardo, das férias quentes no Guarujá. Isso tudo se passou há muito tempo...

Da adolescência aborrecida, relembro o encanto de campos floridos da primavera alemã, das experiências incríveis nos albergues da juventude, da invasão à fronteira francesa, das doze badaladas comendo os doze bagos de uva na Espanha, do "retiro" na Inglaterra,  da emoção, quase tardia, de ver um Mickey e um cenário em forma de castelo, dos congressos acadêmicos, das viagens (de ônibus) a Salvador e Brasília, ao lado de meu melhor amigo.

Depois vieram as viagens de quando éramos só dois... boas lembranças também! 

Até as viagens a trabalho marcaram minha memória: o frio das noites gravando aulas em Curitiba, o calor dos dias no Rio (as madrugadas curtas, a corrida na praia).

Agora somos três, os destinos infantis às vezes se repetem, mas de uma outra forma, de um outro ângulo e certamente com outros olhos e novas expectativas.

De todas essas viagens, algumas coisas em comum: a alegria, o aprendizado, a vontade de voltar um dia e o desejo de reviver esses momentos.

Desejo inútil!

Ainda que eu volte a Rio Claro, por exemplo, vovó não está mais lá, o clima é outro, a época é outra e eu sou outra.

Heráclito disse uma vez: "ninguém se banha duas vezes no mesmo rio..." E eu digo: ninguém viaja duas vezes ao mesmo lugar. Aproveitemos cada uma delas então!


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