Se
você começou a ler esta postagem esperando uma resposta... Esqueça. A intenção
não é responder a pergunta acima. Essa é só uma tentativa (precocemente
frustrada) de racionalizar o que não pode ser racionalizado. (Somos mesmo
egoístas. Não queremos dizer tchau a ninguém daqueles que queremos ao nosso
lado. A nossa alegria por tê-los por perto é maior que o desejo de deixá-los ir
ao encontro de algo melhor ou simplesmente mais adequado).
Já
nasci dizendo adeus (e deve ser por isso que cheguei ao mundo usando
entusiasmadamente meus pulmões e testando os ouvidos e a paciência de papai e
mamãe). Disse adeus ao calor de uma casinha quente que me abrigou por nove
meses ou nove ciclos lunares como papai insiste em lembrar (nasci na décima
lua!). Esse talvez tenha sido o primeiro, mas jamais saberei quando virá o
próximo ou o último adeus.
Não
poderei me esquecer do adeus ao noninho que, aos 93 anos, partiu (dormindo)
numa noite fria de um dia santo do mês de junho. Naquela época eu acho que não
entendia nada da vida, mas lembro-me que quase me afoguei nas lágrimas que
chorei. Depois de um ano, foi noninha que nos deixou. Velhinha, foi fazer par a
um companheiro de uma vida toda.
Talvez
a maior de todas as dores de infância tenha sido dizer tchau a uma coleguinha
de classe. Tenho certeza que nem eu nem ninguém daquele “Nobre” Colégio São
Carlos esquecerá a partida da Claudinha, uma menina doce e meiga que foi morar
com Papai-do-Céu prematuramente.
Na
adolescência a gente diz tantos “tchaus” e eu, exagerada como era (e sou),
potencializava o sofrimento de cada “até mais”. Senti tanto ao saber que o
professor, por quem cultivava certa paixão, iria se casar. Mas... está bem,
confesso: dizer “tchau” a cada fim de conversa ao telefone com o menininho
bonitinho, era igualmente angustiante. Esperar uma eternidade até a próxima
ligação, doía. E teve um grosso, melado (e ensaiado) “tchau” no aeroporto. Bom
quando estamos no papel de quem vai (péssimo quando somos quem fica).
Depois
veio a faculdade e tive de dizer tchau aos amigos de infância, à irmã (quantos
tchaus eu já disse a ela!), à cidade, ao colo e aos cuidados dos meus pais.
Eles não viram (ainda bem) o meu desespero quando, depois de me deixarem, de
mala e cuia na porta da república, partiram de volta. Esse “tchau” foi tão
difícil quanto necessário.
Já tinha
mais de vinte anos quando, no trânsito paulistano, recebi a notícia da partida
da vó Julia. É claro que errei o caminho, perdi as entradas e vaguei por horas
como um navio perdido em alto mar (por menos eu continuo errando os caminhos em
São Paulo – santo Waze). Perda irreparável! Depois da morte da vovó, perdi uns
pedaços de mim também!
Chorei
ao deixar meu pequeno, pela primeira vez (segunda, terceira e quarta também) na
escola, mesmo sabendo que em poucas horas ele estaria ali, de novo, bem perto
de mim (coisas de quem tem um coração batendo fora do corpo – eu tenho!).
Incrível
como é profissionalmente difícil dizer tchau a cada turma que se forma (e, de
novo, está chegando esse dia!), aos mestres que passaram (e tanto deixaram),
aos colegas que conviveram, às “chefinhas” que, racionalmente, precisam ir...
Lamentei
por livros e filmes que acabaram mesmo sabendo que poderia revisitá-los quantas
vezes quisesse. Por taças que quebraram, por livros que não foram
devolvidos, por cartas que não foram respondidas e por histórias que não foram
lidas (e até pelas que não foram escritas).
Sofro
pelos “até breve” de amigos que custo a rever, pelos feriados com a família que
passam ligeiro demais (chega depressa a hora de dizer tchau), pelos encontros
que parecem durar menos tempo que o minimamente aceitável.
São
muitos os “adeus” da vida, uns mais significativos que outros, naturalmente.
Mas alguns “tchaus” eu preferia que fossem daqueles de mentirinha, que durassem
só uma noite. Que amanhã, quando eu acordasse tudo não tivesse passado de um
sonho, um sonho que pareceu tão real, mas não foi.
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