Doze
anos poderiam ser percebidos como um instante ou uma eternidade. Neste caso,
uma eternidade.
Preocupava-lhe
estar com mais de cinquenta anos e ainda não ter encontrado alguém que viesse a
suceder a única mulher que havia conseguido transformar seus sentimentos em
emoções. E quantas emoções! Mas, nos doze anos depois da última noite juntos,
nem sequer havia se reencontrado com ela. Vivia se perguntando se não devia
tê-la procurado com alguma insistência. Porém, não se sentia seguro para isto.
A mulher que o compreendera e o levara a descobrir-se em toda a sua plenitude.
E que ele deixara ir sem qualquer reação.
Preocupava-lhe,
também, o fato de ter desenvolvido alguns costumes, cujo exercício era, ao
mesmo tempo, surpreendente e incômodo. Mas... não os abandonava.
Um
deles era continuar enviando, todo mês, para o endereço que julgava ainda ser o
dela: dez rosas vermelhas, duas brancas e um cartão sem palavras. Nunca soube
se seus buquês estavam sendo recebidos ou dispensados. Se eram motivo de
alegria ou nada significavam. Ele mesmo não entendia as razões que o levavam a
manter essa atitude.
Outra
mania era voltar ao mesmo cinema que frequentavam quando estavam juntos. A cada
duas semanas. Valia a tentativa de recuperar alguma coisa perdida, que não
sabia definir com precisão. Voltava sempre, não importando o filme.
Voltava como voltou naquela noite.
Pensava nisto enquanto ouvia a música ao fundo, preludiando o filme a ser
exibido e as luzes já iam se apagando. As pessoas passavam e se acomodavam.
Chamou-lhe a atenção uma delas. Corpo atraente, andar sereno, cabelos não muito
longos disfarçando a suavidade do colo, braços esguios. Linda mulher, pensou,
embora não tivesse ainda distinguido os traços nem os olhos. Ela foi se
sentar do outro lado do corredor, duas fileiras à frente. Sozinha. Pernas bem
feitas, observou, ao repará-las cruzadas na poltrona. Aquele perfil...
Não pode dizer que tenha assistido ao
filme. Apenas percebeu-o longo. Fixado no vulto que mais e mais o fascinava,
deixou a imaginação elevar-se ao seu universo de expectativas e projeções. Mãos
bem delineadas, notadas ao arrumar os cabelos e as mangas da blusa. Linda
mulher, confirmou consigo. Seria...?
Levantou-se,
apressado, quando acesas as luzes. Os alguns segundos que ela demorou a
virar-se pareceram outra eternidade. Avaliou, então, a relatividade das coisas.
Permaneceu em pé e, espantado, ouviu-a dizer quando os olhares se encontraram:
- São lindas as flores que você tem mandado... Janta comigo?
- São lindas as flores que você tem mandado... Janta comigo?
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